Marumbi - História

Certo dia meu irmão Floramil falou-me de um colega taxista que frequenta sua igreja, que aos sábados à tarde gosta de fugir do agito da capital e vai para  bosques, matos, montanhas, para que em contato com a natureza possa se descontrair e recarregar as energias para os desafios da semana seguinte.

Dificilmente sua esposa e os dois filhos que já são adolescentes o acompanham, assim sempre convida o Floramil e este sabendo que gosto destes tipos de atividades também me convidou, sendo que lhe respondi que no próximo passeio iria junto.

No sábado dia 02 de novembro cedo fui à casa de meu pai para acompanhá-lo, para que minha mãe pudesse ir à igreja e na hora do almoço o meu irmão e o Carlos chegaram de táxi, sendo que após as apresentações, disseram que pretendiam ir ao morro Anhangava e convidaram-me para acompanhá-los e sem hesitar aceitei.

Ele ficou contente por me conhecer, visto que meu irmão lhe contou de algumas aventuras que registrei e assim enquanto nos deslocávamos para Quatro Barras, decidimos em descer a Estrada da Graciosa e ir até o Conjunto Marumbi.

Deus tem um plano especial para cada pessoa!

No caminho o Carlos contou como Deus o livrou da morte uns 20 anos atrás, quando ele trabalhava na construção civil e estava em um andaime no oitavo andar de um prédio, quando o cabo de aço arrebentou e assim esse despencou, caindo até o térreo com massa, tijolos e com ele junto, sendo que sofreu apenas escoriações.

Recentemente levou outro susto, pois foi assaltado, amarrado e amordaçado, sendo colocado no porta mala do taxi, ficando algumas horas em poder dos bandidos. 

Como fomos pelo trecho inicial por Quatro Barras, entramos em um caminho secundário que passa pela casa de pedra; lugar onde eu tinha vontade de conhecer, pois diversas vezes passei pelo começo e algumas vezes no final da estrada, mas como estava só, nunca me aventurei a trilhar por ela.

Paramos um pouco e passamos momentos inesquecíveis, pois havia chovido e a vegetação estava molhada e com aquele perfume gostoso de flores e da vegetação úmida. Ouvimos o gorjear de pássaros de várias espécies, dos quais não estamos acostumados a ouvir, inclusive de algumas arapongas e também o estrilado de cigarras e grilos.  

Sem mais paradas, descemos a estrada da graciosa e fomos até Porto de Cima, aonde às 16 horas chegamos ao posto do IAP, assinamos o livro de visitas e começamos a caminhada.

Na pequena estrada paralela ao rio, o taxi quase caiu em uma ribanceira, pois ao encontrarmos dois automóveis que vinham do lado contrário, os motoristas dos mesmos pararam quase se encostando ao barranco, sendo que o motorista do táxi teve que passar bem devagarzinho e a roda traseira do lado direito caiu em um buraco e assim desembarcamos e com ajuda dos dois motoristas e mais um homem empurramos, enquanto o Carlos acelerava, passando a poucos centímetros dos dois carros.

Apocalipse 14:7 “...Temei a Deus e dai-lhe glória, pois chegou a hora do seu juízo. Adorai Aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas".

Ao subir pela trilha, constantemente o Floramil e o Carlos engrandeciam o nome dAquele que criou e mantém tudo que existe e enquanto subíamos encontramos várias pessoas que desciam; alguns até com certa dificuldade e demonstravam em seus semblantes o extremo cansaço físico; afinal estavam terminando o trajeto do Caminho do Itupava e desde cedo tinham caminhado.

Alguns estavam mais mortos do que vivos e não podia ser de outra forma, afinal era dia dois de novembro; dia dos mortos.

Um senhor de uns 30 anos, disse que nunca mais andaria por aquele caminho; mas tenho certeza que após ele chegar em sua casa e descansar do passeio, voltará outras vezes; pois quem vai uma vez, sempre volta.

Após cruzarmos pelos últimos caminhantes, me adiantei um pouco e me escondi na beira do caminho e quando os dois colegas passaram, chacoalhei uma pequena árvore que crescera inclinada em direção à estrada, dando um tremendo susto no Carlos que instintivamente ameaçou dar uma pancada com o guarda-chuva, pensando que era um animal (um outro tipo de animal).
    

Chegamos à estação do Marumbi e ficamos por um bom tempo, apreciando a imponência dos picos que compõem o conjunto, sendo que o tempo estava nublado, então víamos apenas a parte inferior de alguns cumes.

Meu irmão olhou para o cenário diante de si e declamou o verso bíblico: “Levanto meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro?  O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.”  Salmos 121:1-2

Na estação conversei com alguns karatecas vestidos de kimonos (sujos pela caminhada), onde o instrutor me informou que eram de uma academia de karatê da Fazenda Rio Grande e que para muitos deles, aquele dia tinha sido a prova de fogo, pois haviam subido o Olimpo e descido e logo em seguida desceram pelo caminho por onde havíamos subido.

Enquanto estávamos na estação, subiu um trem de carga e em um entroncamento aguardou outro que descia.

Ofereci laranjas para os maquinistas que aceitaram e agradeceram e lembrei-me de que em muitas décadas antes; morto de cansaço e fome e com as energias esgotadas por ter subido e descido o Olimpo com poucas provisões, levei um bom tempo para colher uma pequena laranja do alto de uma laranjeira perdida no meio do mato, enquanto anoitecia e os colegas de caminhada desapareceram na trilha.

No que anoiteceu começamos a caminhada de retorno que foi menos cansativa, pois a maior parte é descida, sendo que sob a luz de duas lanternas desviávamos das pedras e poças de água.

Por vezes apagávamos as lanternas e víamos que seria impossível caminhar na trilha devido à escuridão e meu irmão disse novamente outro verso bíblico: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho”. Salmos 119:105 e também; “Disse Jesus; Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8:12

Aí pensei comigo mesmo; qual seria a situação deste mundo caótico se não houvesse leis e regulamentos para norteá-los?

Mesmo tendo as leis, o que vemos diariamente são notícias de crimes, roubos e extorsões, tornando muito difícil a subsistência.

Todos têm fraquezas e falhas de caráter para vencer, mas devemos pedir a Deus que nos dê forças para adequarmos nossa vida à Sua vontade. A Bíblia é a luz que ilumina nosso caminho e nos ajuda a chegar com segurança até o Porto Seguro.

Às 21 horas chegamos ao posto do IAP, onde após darmos baixa no registro de presença, paramos em São João da Graciosa, onde saboreamos e trouxemos para casa, deliciosos pastéis de palmitos e voltamos pela estrada da graciosa, com uma velocidade um pouco abaixo da normal devido à cerração, sendo que às 23 horas chegamos em segurança em casa.