Retirado do livro Por que mudei de Exército.
“Santifica-os na verdade a Tua palavra é a verdade.” S.João 17:17 A Palavra de Deus tem sido o maior agente transformador e santificador de vidas humanas. Homens e mulheres que haviam descido na vida a mais baixa degradação moral, lendo o sagrado livro, bebem a largos sorvos a água da vida, com a qual saciam a sede da alma, vindo daí mudanças e transformações! Depois de transformados, transmitem a outros a experiência de conversão e isso ilustra a semente da mostarda.
“Santifica-os na verdade a Tua palavra é a verdade.” S.João 17:17 A Palavra de Deus tem sido o maior agente transformador e santificador de vidas humanas. Homens e mulheres que haviam descido na vida a mais baixa degradação moral, lendo o sagrado livro, bebem a largos sorvos a água da vida, com a qual saciam a sede da alma, vindo daí mudanças e transformações! Depois de transformados, transmitem a outros a experiência de conversão e isso ilustra a semente da mostarda.
O poder transformador da palavra de Deus é sem limite. Vidas desajustadas, embotadas pelo vício, manchadas pelo pecado, trapos ou feras de dois pés rendem-se a Deus ante a leitura do Livro.
A narrativa que se segue ocorreu nas primeiras décadas do século passado; século de luz e teve como palco um local denominado Pinga, nas caatingas do município de Xique-Xique, estado da Bahia.
O maior drama do homem das caatingas é até agora a falta dágua. Ainda hoje não se deu ao sertanejo a segurança e a certeza de que, vindo um longo período de estiagem, sua família, seu pequeno rebanho não irão morrer de sede. Os açudes particulares cavados no chão pelo braço humano são de pequena duração e sem muita segurança e capacidade para resistir a um prolongado período de estio.
O sertanejo clama por um açude próprio, bem idealizado e seguro, coisa que está fora de sua capacidade financeira fazer. As caatingas de Xique-Xique e Irecê estão entre as terras mais férteis do nosso país. A região de Xique-Xique, no fim do século passado, foi palco de grande feito mineralógico.
Martins de Carvalho disputava com a família de José do Pinga a posse de uma fonte, coisa raríssima na região. Água.
Num dia em que Martins Carvalho sai à roça em companhia de alguns de seus filhos menores para apanhar feijão, encontra-se com a família Pinga, e estes, depois de uma articulação calorosa com Martins, desfecham-lhe certeiros disparos de arma de fogo alvejando-o em cheio. Martins tombou no solo de terra vermelha que lhe embebia o sangue, ainda arquejante. José do Pinga desfecha-lhe um tiro de “misericórdia” na parte superior do crânio. A bala fez uma trajetória indo sair à altura do pomo de Adão e veio cair sem efeito numa cuia que Martins conduzia.
Quando o
último dos Pinga completa a sentença e sai da cadeia, Paulo Martins de
Carvalho, filho da vítima Martins de Carvalho, completa vinte anos de idade. Já
havia comprado um clavinote e o recarregara com a bala que matou seu pai. Iria
agora visitar o assassino.
Numa noite quente de verão, quando a temperatura não tem limite, o sertanejo despe-se da camisa deixando o corpo seminu.
Desta forma, Zé do Pinga veio à porta atender o chamado de alguém que viria visitá-lo. Eram muitos os amigos que dariam as boas-vindas a um homem que cumprira pena de doze anos e acabara de chegar da cadeia pública de Salvador. Era o último dos Pinga, vivo, porém sentenciado à morte por outro tribunal, o tribunal da vingança. A morte de Martins de Carvalho, tão barbaramente executado, indefeso, na presença de crianças, por outro lado trouxera ódio mortal pelos Pinga. À medida que Paulo ia crescendo, os amigos iam imprimindo na sua mente o sentido de uma vingança sumária. Ele se preparara para isso.
Agora, clavinote em pontaria em frente à porta do Zé do Pinga, chama-o. Esse vem como se fora atender um amigo. Ao chegar ao limiar da porta, Paulo, de candeeiro na mão para tornar mais objetivo o alvo, aciona o gatilho, ouve-se um estampido e um grito de dor. Zé do Pinga foi alvejado em cima do coração e cai inerte, tendo morte instantânea, morto com a mesma bala que há doze anos antes matara Martins Carvalho.
Paulo
Carvalho não quer ir para a cadeia, toma as caatingas como sua proteção. É
agora, por esse ato, tido como herói e não faltam amigos para escondê-lo da
polícia e dos parentes do morto. Arranja armamentos mais eficientes e some nas
rochas de Ubaí e na grossa caatinga.
A vingança não é um meio correto. O sertanejo não conhece outro meio de justiça a não ser a executada com as suas próprias mãos. Disse o Senhor nosso Deus: “Minha é a vingança.” Romanos 12:19
Paulo Carvalho, de menino sertanejo, de rapaz cheio de esperanças e até dotado de certas virtudes, torna-se de uma hora para outra, temível para uns e herói para outros. Forma também o seu próprio grupo de “amigos” que o acompanha na trilha. Se quisermos ser corretos e se Paulo Carvalho quiser ser honesto como sempre foi, temos que dizer que ele formou um grupo de valentões que trocou tiros, trancou vilas em tiroteio e fez outras coisas; menos roubar e assaltar. Essa era uma de suas virtudes e a outra, jamais esteve metido com moças ou senhoras casadas. Foram doze anos de vida de sobressalto.
No meio desse tempo, em uma de suas andanças, encontra-se com uma família de romeiros que iam a Bom Jesus da Lapa. E namora uma jovem por nome Romana, com quem se casa. Paulo era moço alfabetizado e Romana uma menina de cidade. Levou parte da infância em Penedo, Alagoas, onde esteve fazendo o primário.
A vida de sobressalto não agradava a Paulo Carvalho e muito menos a Romana. Dizem popularmente que Deus escreve certo por linhas tortas. Mas o que é isso: “Vinde a Mim todos os que estão cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração.” S.Mateus 11:28-30.
Lagoa de Ubaí, atualmente Presidente Dutra, era um dos lugares mais seguros para Paulo Carvalho. Local fundado pelos seus ancestrais, onde todos eram seus parentes.
Comumente Paulo ia à feira aos domingos. Num desses dias de feira em Lagoa do Ubaí, Paulo dá com um vendedor de Bíblias. Agrada-se de um volume e aceita o preço, quinhentos réis, pagou pelo volume. Aí corria o ano de 1929. Tanto Paulo como Romana apreciaram o livro. Ela já havia tido um contato com uma família crente de Penedo e não achou difícil uma mudança de crença e conduta.
Todo homem tem um dia para tomar sua decisão, para a vida ou para a morte.
Paulo e Romana idealizavam como fariam. O livro sagrado agora lhes era um tesouro. Preço nenhum o tiraria do coração. Porém, Bíblia e carabina não podiam andar juntas. Uma das duas teria que cair fora do acampamento do homem que encontrou o Salvador. Se jogar fora as carabinas o inimigo nos devora, pensava ele.
Deus via em Paulo, um filho extraviado e desejava conduzi-lo ao rebanho. Por isso disse: “Ainda que os vossos pecados sejam como escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como carmesim se tornarão como a branca lã.” Isaías 1:18
Confabulando com Romana, concordaram: “Rumemos para bem longe daqui onde todos nós sejamos desconhecidos; aproveitemos a romaria da Lapa e passaremos como romeiros.”
Ali a cidade regurgitava de romeiros. No porto já não cabiam mais embarcações; barracas cobertas de folhas; um amontoado de gente para não dizer promiscuidade. Homens embriagados, meretrizes mercadejavam o corpo quase à vista de todos, até no “santuário” do Bom Jesus elas se ofereciam ao sensualismo dos romeiros. Comerciantes astutos e ladrões lesavam e roubavam a pobre gente incauta. Paulo compreendeu que aquilo era uma exploração do homem, e jamais uma adoração ao Deus da Bíblia que ele conhecia. Ficou horrorizado com o que viu. Viu tudo; roubo, prostituição, exploração, promiscuidade, falta de higiene, miséria, fome. Viu tudo isto, menos adoração a Deus.
Bom Jesus da Lapa, às margens do São Francisco, aonde vão alguns milhares de romeiros para ver uma igreja numa gruta natural em pedra calcária, tudo obra da Natureza, o maior centro da idolatria no Estado da Bahia.
Mas Paulo viu uma coisa deslumbrante em Bom Jesus da Lapa. O pôr do sol. Ele estava aprendendo a gostar daquilo que Deus faz, mais do que a pomposa idolatria que o homem fabrica.
Desejou
ir ver o pôr do sol mais de perto e indagou de um romeiro apontando para o sol
que sumia no mais lindo ocaso que ele já vira:
- O que
tem pra aqueles lados do pôr do sol?
O astuto romeiro responde:
-Onças
Não era isso que Paulo esperava ouvir e insistiu na interrogação:
- E se for muito, muito mais para lá?
Ele torna com a resposta:
- Mais onças.
Paulo Carvalho argumentou consigo mesmo que o lugar melhor para ele seria mesmo às feras, e com o seu pessoal, gente afeita às durezas da vida, entrou nas matas em frente à cidade, do lado esquerdo, rumo ao acaso. Viajou 96 quilômetros, encontrou um rio desconhecido, ali ficou com seu povo, seus amigos. Como aquelas existiam poucas. Construíram casas de taipa e cobriram-na com telha de cascas de madeiras.
Agora estava cercado de onças. As onças da região são as verdadeiras do tipo jaguar, traiçoeiras e perigosas. Com seu povo começou a limpeza das feras. A pele de cada onça abatida era vendida a bom preço. Se quisesse fuzilaria uma por dia. A extinção das onças cedeu lugar a um criatório bovino e caprino.
Livre dos inimigos, livre de tudo, a Bíblia era o pão de cada dia.
Paulo era um homem respeitado e querido de todos. Descobriu também muita mineração de água potável e muitas grutas. Numa delas há um rio subterrâneo. Descobriu tudo e não descobriu a igreja adventista.
Ele contou toda a história do sonho a Romana. Na viração da tarde sentou-se no mesmo lugar onde estaria no sonho. Não demorou muito, um cavalheiro desponta na estrada, ele chama Romana e diz: “O homem que eu vi vindo para cá no sonho é aquele que vem chegando”. Se ele for um missionário adventista, certo é que Deus está se lembrando de mim.
Quando o pastor terminou os cumprimentos e disse ser um missionário adventista, todos ficaram maravilhados.
Cuidei de preparar o grupo para o batismo, pois era o meu distrito. Fiquei protelando para dar mais tempo e melhor preparo, quando Paulo pôs a pesada mão calosa sobre o meu ombro e disse: “Pastor me batize hoje, se eu morrer sem me batizar o meu sangue fica sobre o senhor.” Não tínhamos alternativa. Paulo e mais seis pessoas dos seus desceram às águas batismais.
Tivemos uma grande igreja nas matas da serra do Ramalho, como até então era chamada. Chegamos a ter nessa igreja quarenta famílias adventistas.
Recebeu o
novo nome de Colônia Adventista do Ramalho. Paulo Carvalho tem hoje acerca de
oitenta anos, é como se fosse um cordeiro. Deus o tem abençoado grandemente.
Ainda não
se cansou. Há poucos dias mudou de lugar para abrir novos grupos de
interessados e não fica aí, já tem planos de penetrar em matas mais densas para
formar colônias adventistas.
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