Outra
história contada pelo Pastor Pita em seu livro Por que mudei de Exército, é que em um local chamado Ilha do Cajueiro a cinquenta
léguas de Juazeiro, um grupo observava o sábado e tencionava ingressar na
igreja adventista.
O dirigente era o irmão Cassimiro Maciel. Admirei-me como esse homem conhecia as doutrinas bíblicas. Contando-me a experiência da sua conversão, disse-me:
- Recebi o evangelho na prisão. Como era meu costume, fui à feira de Belém do São Francisco e lá enchi a cabeça de cachaça. Desorientado pelo efeito da pinga, cometi algumas desordens e o delegado me trancafiou no xadrez como corretivo. Ao ver meu acabrunhamento e desânimo, pois não era a primeira vez que eu visitava o xadrez, e agora o delegado desejava mesmo infligir um castigo mais severo. Um moço chegou à porta da prisão e ofereceu-me uma Bíblia e leu para mim: “Deixe o ímpio o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus que grandioso é em perdoar.” Isaías 5:7.
Depois da Bíblia, eu saí da prisão arrasado, murcho, cabisbaixo, medroso, sem jactância; era agora um trapo. Sobrou da feira apenas a Bíblia. Aí eu senti o pecado me queimando a alma. Pesava sobre mim. Resolvi ler a Bíblia toda de fora a fora. Houve na minha vida cada lance que me deixou maravilhado! Achei a lei dos Dez Mandamentos. Comecei a observar o sétimo dia e quando li: “Este evangelho será pregado em todo o mundo”, comecei a reunir os vizinhos e a pregar. Na feira, onde no passado sempre ia bebericar pinga, agora pregava ao povo. Com poucos dias tínhamos boa assistência. Descobri também na Bíblia sobre a vigília e uma vez por mês reunia os amigos e orávamos toda a noite pedindo a Deus luz da Sua palavra.
Fiquei impressionado com esse achado. Logo veio a lembrança, meu pai que há 25 anos havia cometido um homicídio e desaparecido na voragem do tempo sem nunca dar uma notícia.
Disse para minha mãe: “Meu pai é uma ovelha perdida, irei procurá-lo.”
“Como!!!”
Um homem desaparecido há 25 anos! Fizemos uma noite de vigília, colocamos o caso nas mãos do todo-poderoso Deus. Fizemos os preparativos, os materiais para a viagem.
Aonde iria eu nesse imenso estado da Bahia, à procura de um homem que sumira sem deixar vestígio, havia tantos anos? Eu mesmo tinha oito anos quando ele desapareceu.
Minha mãe deu-me uma sugestão: “Procure o seu pai nos garimpos de ouro, ele me disse que ia para os garimpos enriquecer e nos buscar depois”.
Aceitei o
conselho dela, segui a pé sertão a fora, cinquenta léguas até Juazeiro, onde
tomei um trem rumo aos antigos garimpos. Na região dos garimpos alguns dos
quais sem função; procurava homens idosos para tirar informação. Em um deles
perto de Jacobina, encontrei um velho garimpeiro que trabalhou com o meu pai e
sabia também onde ele residia.
A informação não era nada agradável. Meu pai vivia miseravelmente esmolando numa feira. Para lá me dirigi. Era o vigésimo segundo dia de busca. Na verdade não o encontrei na feira, mas tive notícias dele numa fazenda, onde certamente ia encontrá-lo. Não era tão longe da cidade. Encontrei-me com a esposa do fazendeiro. Interroguei-a: “Tem a senhora ao seu serviço um velho de nome Virgínio Silvino Maciel”?
“Sim”, respondeu-me.
“Desejo falar com ele”, continuei.
“Está no eito, só ao meio dia.”
Comecei a falar e contei tudo sobre meu pai e do desejo de levá-lo para o convívio da família.
A fazendeira sugeriu: “É perigoso dar uma notícia assim a um homem velho como o seu pai. Irei chamá-lo e aqui na nossa presença o senhor fala aos poucos até prepará-lo.” Concordei.
Confesso pastor Pita; foi duro me conter diante daquele velho, aquele resto de ser humano de quem eu tinha uma pálida recordação, de ser um homem viril e forte. Agora velho e alquebrado.
Comecei assim: “O senhor é Virgínio Maciel?” Resposta afirmativa. “Já morou na Ilha do Cajueiro?” “Sim”, foi a resposta. “Como se chamam os seus familiares?” Ele hesitou um pouco, depois disse: “Minha mulher se chama Rosa e meus filhos...” Interrompi e disse: “Porque o senhor está tão longe dos seus, volte para o seio da família, eu conheço todos os seus parentes. Dona Rosa está sonhando com a sua volta.”
Ele matutou um pouco e respondeu: “Volto não. Eu era gente quando de lá saí para ganhar a vida, hoje neste estado, seria uma vergonha para os meus a minha presença. Nunca mais eles me verão, tampouco darei minhas notícias.”
Continuei: “Se um filho seu vier buscá-lo, o senhor volta?”
“Assim, com um meu filho voltarei, garanto que volto.”
Demorou até recobrar o ânimo. Expus os meus planos, ele voltaria comigo. Acertou contas, duzentos cruzeiros velhos de saldo. Logo no caminho para a cidade, falei das verdades bíblicas. Ele disse que tinha uma coisa melhor do que qualquer outra religião e continuou: “É o milagre da guarda do sábado.”
“Onde o senhor aprendeu a guardar o sábado?” Ele respondeu: “Eu estive muito doente com muitas feridas nas pernas, fiquei tão ruim que cheguei a esmolar. Um homem me disse ’Guarde o sábado que irá ficar curado’; eu cri e não trabalho mais aos sábados e fiquei curado mesmo.”
Mais outra alegria; meu pai já tinha meio caminho andado para ser um adventista. Quando lhe falei que nossa religião observava o sábado, ele concordou que devia ser boa uma religião a que guarda o sábado.
O encontro do meu pai com a minha mãe, os outros filhos, com os amigos é difícil de descrever com palavras. Foi um deslumbre. É muito raro e creio que poucas vezes acontece tal cena. Aí está pastor Pita, a história da nossa conversão a Cristo e da nossa entrega a Deus.
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu e também do grego.” Rom. 1:16
Simplesmente o poder de Deus operando.
Organizamos uma linda classe bíblica. No dia 13 de novembro de 1954, na Ilha do Cajueiro, 27 preciosas almas desceram às águas para selar um ato de fé. Eram cinquenta que pediram o batismo, as outras estavam acertando a situação conjugal.
Foram batizadas. Entre elas o casal Virgínio Silvino Maciel, “o pai pródigo” e sua esposa, a irmã Rosa Maciel.
Virgínio viu muitas almas se unirem a Cristo pelo seu exemplo, transformação e virtudes. Tornou-se um homem nascido de novo. Não viveu por muito tempo. Foi picado por uma serpente altamente venenosa, uma cascavel. Ao sentir a aproximação da morte, chamou os familiares, recomendou-lhes firmeza na fé. Disse: “Estou vendo dois anjos, um feio e horrível e outro bonito e magnífico. Quando o anjo feio quer se aproximar de mim, o anjo bonito sacode as asas e o anjo feio se retira.”
Virgínio nada sabia acerca dessa luta dos anjos do bem contra os anjos do mau, como é descrita pela pena inspirada: “Anjos de Deus eram encarregados da guarda de Seu povo, e quando a atmosfera intoxicada, da parte dos anjos maus, era impelida em volta daquelas pessoas ansiosas, os anjos sobre eles agitavam continuamente as asas para afugentar as densas trevas.” Testemunhos Seletos, vol. 1 pág. 59.
Após
aquela cena, Virgínio disse: “Estou em paz, posso ir.” Com mãos postas sobre o
peito balbuciou uma oração que será terminada na eternidade. Expirou para
acordar naquela manhã.
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