Vamos
retroceder um pouco no tempo e relembrar alguns fatos que foram marcantes nesse
colégio. Teremos um pequeno vislumbre de sua história, que hora aflora na
memória de alguém que na época era apenas um menino de seis anos.
Década
de 60; Bons tempos aqueles! Naquela época o nome de nosso colégio era “Grupo
Escolar do Jardim Urano – Distrito do Portão”. No recreio as meninas brincavam
em círculo, cantando várias cantigas infantis. Os meninos brincavam de polícia
e ladrão, cinco Maria, bafo com figurinhas da bala Zequinha, esconde esconde,
etc.
Os alunos e respectivos pais respeitavam mais os
mestres e a educação era mais valorizada. Hoje em dia inverteram-se os valores.
Além
das matérias tradicionais, eram ensinadas artes manuais. Os meninos com um
pequeno carretel de madeira, quatro preguinhos e lã, aprendiam a fazer “tripa
de mico” e as meninas “tricô”.
As
carteiras eram rústicas e inteiriças para duas crianças. Às vezes em ocasião de
provas a professora colocava um menino para sentar-se junto a uma menina, para “que
não colassem.” Hoje em dia nem pensar nessa atitude!
Era um tempo feliz, dificilmente se ouvia falar em violência.
Naquele tempo nosso bairro não possuía energia elétrica, portanto as aulas eram somente no período diurno.
À noite os pais não ficavam absortos em frente à televisão ou internet e assim sobrava mais tempo para dialogar e educar os filhos.
Nosso
céu era mais estrelado. Em muitas noites viam-se nos campos milhões de pequenas
luzes que eram os vagalumes.
Em 1964 nossa escola era composta de apenas quatro salas de aulas, a cantina e secretaria, tudo de madeira. Situava-se bem na esquina, onde atualmente está localizado o Colégio São Pedro Apóstolo. As casas da vila eram meio esparsas, sendo que ao redor de cada uma havia muito espaço para correr e brincar.
No local onde hoje está localizado o Posto de Saúde, havia uma nascente de água cristalina, que muitos buscavam para consumo e lavagem de louças ou roupas, pois na vila não havia água encanada. Em muitas casas a água era tirada de poço. Dessa nascente a água fluía límpida e seguia seu percurso até o Ribeirão dos Padilhas, onde abundavam os peixes.
Onde atualmente está localizada a cancha de areia
da praça, esse regato alargava-se um pouco e em suas margens era possível ver
sapos, peixinhos e girinos que fugiam assustados quando chegávamos perto. Podiam-se
ver as libélulas, parecidas com pequenos helicópteros, plainando sobre a água
ou pousando em alguma touceira.
Às
vezes ao adentrarmos distraidamente nele, corríamos gritando até nossa
mãe, visto que em nossas pernas podia se
ver alguns pontos negros e viscosos que grudavam e não se soltavam tão
facilmente, pois eram as sanguessugas.
Bons
tempos aqueles! Tempos que não voltam mais!
Com o passar dos anos, esse regato virou valeta e
posteriormente foi colocado manilha. Ainda existe; mas devido ao crescimento
desordenado, desapareceu de nossas vistas. E tanto ele, como o Ribeirão dos
Padilhas e seus afluentes estão agonizando, pois são riachos poluídos e sem
vida.
Quando chegou a energia elétrica em nossa vila, assim que saíamos das aulas às 17h15m, corríamos para casa a fim de escutar histórias infantis em um velho rádio que era do tamanho de um microondas de hoje.
As Vilas; Independência, Parigot de Souza, Maria Angélica, Sítio Cercado, Jardim Maringá e Jardim Itamarati, não existiam. Era tudo campos, chácaras e um pouco de mato. Podiam-se ver centenas de vacas pastando.
Que pena! Hoje quando passo por aquelas valetas fétidas no começo das vilas Maria Angélica e Parigot de Souza, fico triste em relembrar que outrora eram riachos piscosos. Em suas margens colhíamos e comíamos umas frutas pequenas e adocicadas que davam em cachos, sendo semelhantes a pequenas uvas e eram chamados frutas de São João. Em nossas andanças às vezes encontramos até cobra no caminho.
Que alegria quando nosso pai antes de ir trabalhar,
deixava dinheiro para irmos até a chácara do “Seu Leopoldo” comprar
leite e ovos caipiras. Eram momentos felizes, pois no percurso nadávamos no
riacho ou depressões do gramado onde se ajuntava água das chuvas. Na chácara
pedíamos permissão para procurar frutas silvestres, tais como: pitangas,
guabirobas, amoras e maracujás, que metade trazíamos para casa e metade
comíamos pelo caminho. Essa chácara localizava-se a duas quadras de onde hoje é
o Colégio Estadual Etelvina. Ainda existe um pouco de mato que pertencia à
mesma. Ah! se o tempo retrocedesse e voltássemos a ser crianças e o espaço
geográfico fosse o que era; pois éramos felizes e não sabíamos!
Naquele
tempo, nós crianças pobres não tínhamos brinquedos. Éramos obrigados a usar
criatividade e imaginação para poder brincar. Empurrávamos pneus vazios,
enchíamos várias latas de leite com areia ou terra que puxávamos uma presa à
outra, fazendo de conta que era uma carreta.
Prendíamos um arame em uma ponta de ripa e com ela fazíamos um suporte para equilibrar um aro de ferro da boca do fogão à lenha.
Fazíamos carrinhos de rolimãs e descíamos com ele nesta rua em frente ao colégio, que na época era de chão batido, com mais capim do que terra. Era necessário ter sempre em casa o famoso “mercúrio” ou “água oxigenada”, para passar nos esfolões de braços e pernas. Bons tempos eram aqueles!
A lenha para o fogão era vendida por metro e quando o mercador vinha entregar em um carroção de quatro rodas de madeiras com chapa de ferro puxada por dois cavalos, ou um tratorzinho com reboque, pegávamos a “rabeira”.
Dormíamos em travesseiros feitos com flor de marcela do campo. Corríamos por esses procurando tocas de corujas e também comíamos “azedinha” (flor do trevo), sendo que tinham as amarelas e as lilás.
Ah, que saudades de ouvir de madrugada o guizo dos sinos da charrete do padeiro que entregava pães fresquinhos em algumas casas.
Hoje, ao invés de ouvir o som de guizos ouve-se
algazarra e por vezes até som de tiros. Tempos que se foram e não voltam mais!
Na
rádio ouviam-se muitas músicas de Roberto Carlos, Elvis Presley e dos Beatles.
Quem não se lembra da propaganda da Casa das Banhas, Lojas Buri, Café Jubileu, que usava o slogan: “O melhor que apareceu”?
Quando passava algum automóvel jogando panfletos de propaganda das lojas Hermes Macedo, Prosdócimo ou Disapel, nós gurizada, corríamos atrás. Era uma gritaria e fazíamos a maior festa. Hoje em dia certamente algum seria atropelado. Essas grandes empresas da época também já não existem.
Os
táxis da época eram: dkv belcar, aero willis, sinca chambord, os famosos fuscas e também os
importados. Não eram da cor tradicional
laranja e sim de várias cores. Dificilmente aparecia algum aqui na vila; só
víamos quando nossa mãe nos levava ao centro até a Saúde Pública, ou até a
Fundepar buscar aqueles cadernos brochuras, pequenos de cor verde com o hino
nacional estampado na capa. Existiam os de linha, xadrez e caligrafia. Eu “ficava
muito contente” quando a professora me mandava repetir 30, 40, 50 vezes no
caderno de caligrafia. “Eu devo caprichar na letra”, mas não deu muito resultado.
Em 1964 houve instabilidade na política brasileira. Lembro-me que no pátio da escola eram reunidas garrafas, ferros, alumínios, sendo que alguns alunos “mais entendidos” afirmavam que era porque o Brasil entraria em guerra com a Argentina.
Conforme a história a realidade foi outra. Com a renúncia do presidente eleito Jânio Quadros, por direito o vice João Goulart era quem assumiria. Mas eles eram mais chegados à linha de esquerda. Eram pró China, Cuba e União Soviética. Tanto é que o presidente Jânio Quadros, por motivos políticos, esquecendo-se de vários brasileiros que derramaram o sangue pela pátria, condecorou com a medalha Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, o argentino revolucionário “Che Guevara”
O presidente dos Estados Unidos da época John Kennedy, vendo o perigo do maior país da América Latina passar para o comunismo ou socialismo, enviou a força tarefa denominada “Brother Sam”, sendo composta pelo porta-aviões Forrestal, seis contra-torpedeiros, um porta helicóptero e 4 petroleiros para a costa brasileira, com vários fuzileiros e mais de 110 toneladas de armamamentos, inclusive com bombas atômicas que ficaram atracados perto do porto de Vitória ES, para amedrontar os insurgentes e para agir em caso de necessidade e assim ajudar a firmar a democracia.
Resumindo; Os militares tomaram o poder, sendo o primeiro presidente o General Humberto Alencar Castello Branco.
João Goulart foi para o Uruguai, mas antes passou por Porto Alegre, onde tinha o apoio da população, vários segmentos da economia, de uma parte das forças armadas gaúcha, e também de Leonel Brizola. Esse último aconselhou-o a resistir, mas sensatamente ele disse que preferia deixar o poder, a ver correr sangue de brasileiros e principalmente do povo gaúcho. E assim tanto ele como Leonel Brizola e vários simpatizantes pediram asilo no Uruguai e outros países. Não foi apenas um movimento localizado, mas afetou todo país, tanto é que até os governadores de Sergipe e Pernambuco foram presos. Na BR 116 era possível ver carretas do exército transportando tanques e outros carros de guerra para o sul.
Alguns professores e funcionários tiveram o privilégio de estudar neste colégio, tais como: Profª Elisangela, Profº Jair, Claudinei o secretário, Valdir o bibliotecário e Iolanda que ajuda na cozinha. Também alguns que lecionaram ou assumiram a direção deste colégio, estão atuando em um cargo mais elevado. O professor Douglas que era professor de educação física e por vários anos foi capitão do time do urano, foi diretor em vários colégios, sendo que atualmente está aposentado. A professora Sheila que foi diretora de nosso colégio atuou como chefe do NRE da nossa Capital.
Ao rever os livros daquela época, lembro-me com carinho da professora Maria Isabel do 4º ano e professora Liuba do 5º ano. (A professora do 5º ano era uma só para todas as matérias, pois era preparação para entrar no curso ginasial).
Por tudo isto amigos; respeitem e preservem o meio onde vivem, para que quando chegarem vossos filhos, não venham a conhecer muitos lugares e animais apenas através de fotos ou histórias.
Parabéns, você tem uma boa memória.
ResponderExcluirCurti muito.
Um abraço