sábado, 5 de julho de 2014

Três Córregos e São Silvestre - História



Passando pelo terminal de Campo Largo vi no edital que tinha um lugar denominado Três Córregos e como só às 12 horas tinha ônibus para o local e voltava às 16 horas, deduzi que era uma colônia nas redondezas e após ter conhecimento que tinha um colégio grande, resolvi em um dia de férias, vender caça palavras no local.

Quando embarquei no ônibus, achei caro quando paguei R$ 6,00 pela passagem, pois não tinha noção da distância em que ele percorreria para chegar até o local.

Esse já estava lotado, mas consegui um assento no corredor ao lado de uma senhora e após lhe perguntar sobre a distância, ela me informou que era muito longe e que o ônibus iria até São Silvestre que também tinha colégio, mas o de Três Córregos era maior e começou a cochilar.

À medida que o ônibus avançava notei que muitos passageiros levavam muitas sacolas de compras, inclusive em um canto vi dois aros novos de caminhão e uma antena de televisão.

Não tinha nem ideia para que lado ficava, mas notei que o ônibus seguiu em direção a Bateias e o caminho até aquele pequeno município eu já conhecia, pois vendi caça palavras no colégio e também já fui a pé desde Campo Largo, sendo que após passar pelo local me dirigi para Campo Magro naquela caminhada ecológica  descrita na página 156 do livro ”Recordações Histórias e Quase histórias” .

Chegando em Bateias, o motorista virou em uma avenida à esquerda; lugar por onde eu nunca tinha passado antes. Era a estrada do Cerne, onde à medida que o ônibus avançava podia se ver muitas chácaras, fruteiras e animais e eu esticava o pescoço para observar melhor, pois o banco em que estava sentado era do lado do corredor e a senhora ao lado dormia, até que o motorista parou em uma lanchonete e os passageiros começaram a desembarcar.

Perguntei para a senhora se era o ponto final e ela me falou que ainda estava muito longe e o motorista sempre parava naquele lugar para o almoço.

Vinte minutos após recomeçamos a viagem até que terminou o asfalto, e a topografia mudou drasticamente, pois passamos a trafegar de um ambiente plano com chácaras, para outro irregular, rua com muitas pedras, curvas, aclives acentuados e declives em rua de saibro e também com muita poeira.

Muitas vezes olhando à direita ou esquerda, além dos morros e desníveis acentuados, via-se algumas casas esparsas às vezes bem acima de nossas cabeças e por vezes bem abaixo.

Por vezes entre os morros dava para ver um pedaço da estrada por onde deveríamos passar e o movimento de automóveis é bem pouco, mas quando o ônibus encontrava com algum caminhão, os dois tinham que passar devagarzinho, quase se encostando no barranco, pois a estrada apesar de estar conservada é muito estreita.

Depois de quase duas horas de viagem, entre trancos e barrancos chegamos a um local onde vi apenas algumas casas e no alto um prédio escolar e a senhora me informou que ali era o colégio de Três Córregos, sendo que após desembarcar, meu corpo ainda tremulava, pois se acostumara com as trepidações do ônibus.

Em virtude de o diretor estar em reunião em Campo Largo, mostrei as cruzadas e caça-palavras para a secretária, sendo que ela gostou, mas informou que só o diretor poderia adquirir.  Assim lhe ofereci o CD com os programas mais em conta e assim ela adquiriu para seu próprio uso.
Após me desloquei até o colégio municipal que é no mesmo terreno e ali adquiriram o caça-palavras encadernado.

O colégio tem aproximadamente 1000 alunos, mas a maioria deles moram em colônias próximas e são levados de ônibus escolar, visto que próximo ao colégio tem apenas poucas casas.

Como ainda eram 14h30m e o ônibus de regresso só passaria às 17 horas, comecei a voltar a pé, sendo meu plano embarcar no ônibus quando esse me alcançasse e assim desfrutar momentos tranquilos e ao mesmo tempo ajuntar algumas latas de alumínio jogadas no meio ambiente.
Não tinha andado nem um quilômetro quando passou por mim um caminhão carregado de serragem e o motorista parou e me ofereceu carona.

O motorista me informou que diariamente ele faz esse trajeto, então bem dizendo, conhece cada pedra e cada curva do caminho. Ele parou em uma bica onde encheu sua garrafa de água e eu também bebi daquela água geladinha.

Disse-me também que era uma estrada muito perigosa, pois por ser um lugar de pouco trânsito, por vezes acontecem assaltos. Vim com ele até Campo Magro, visto que ele iria para sua casa em Colombo.
Essa carona foi providencial, visto que cheguei duas horas antes em casa e da cabina do caminhão pude ver melhor a paisagem.

São Silvestre, um exemplo “no fim do mundo” Na semana seguinte fui até o colégio estadual em São Silvestre, sendo que a viagem de Campo Largo até lá dura duas horas e meia, sendo a maior parte do caminho em estrada de saibro.

É no mesmo trajeto para Três Córregos, só que o ônibus roda por mais uma hora, vindo à minha lembrança o trajeto para Guaraqueçaba que são 77 quilômetros em rua de saibro. Só que naquela o motorista transita com velocidade constante de 30 km/h e nesta viagem a velocidade foi bem maior.

A estrada até é boa, mas quando o motorista alcançou um caminhão de toras e demorou um bom tempo para ultrapassá-lo, para compensar aumentou a velocidade; apesar dos amortecedores estarem em boas condições, quando as rodas passavam em pequenas valetas feitas pela água da chuva, dava um baque seco e quem estava sentado no último banco, como eu, sentia um impacto mais forte.  Tive que me segurar bem e cuidar para não ficar com a língua entre os dentes, senão poderia até morde-la.    

O motorista parou novamente em um mercado para o almoço, onde os passageiros foram ao banheiro e compraram algum lanche.

Também comprei e no que embarcamos no ônibus fui bebendo um refrigerante só que a latinha guardei até chegar ao colégio e coloquei no recipiente de lixo, onde tinha o exclusivo para lixo reciclável e lixo degradável.
Após eu ver duas pessoas beber refrigerante e lançar a latinha pela janela, comecei a prestar mais atenção na estrada e vi muitas latas jogadas.

Comentei com o rapaz que estava sentado ao lado e ele me disse que mora a um quilometro do rio Açungui e quando vai pescar, leva uma sacola e ajunta as latinhas, sendo que em sua casa tem vários sacos cheios e está esperando aumentar o preço para vendê-las.

Comentei também da outra viagem e da carona e logo após vimos o motorista que é seu conhecido cruzar por nós, então tive certeza que naquele dia não chegaria tão cedo em casa.

Após passar por Três Córregos e várias colônias, finalmente às 14h30m chegamos a São Silvestre.

O colégio é bem menor do que o de Três Córregos, mas quando cheguei e aguardava para falar com a diretora, comecei a notar a organização daquele colégio do interior; ambiente limpo e agradável, sem pichações, banheiros dos alunos com papel higiênico e papel toalha e também sabonete líquido e álcool gel; nos murais postados nos mínimos detalhes a prestação de contas dos recursos tanto do PDDE como da APMF.

Na cantina um cartaz informando qual seria o cardápio do dia e quando bateu o sinal para o recreio, os alunos em ordem dirigiam-se para pegar o lanche e em seguida sentaram-se para comer.  

Ao vê-los com o uniforme parecido com os do colégio onde trabalho, fiquei triste, pois lembrei-me que aquele dia era o penúltimo dia de minhas férias.

Quando falei com a diretora, ela gostou do material, mas disse que estavam com poucos recursos e junto com a pedagoga adquiriu apenas o CD.

Na volta antes de embarcar, comprei um lanche no mercado local e achei muito barato o preço do cachorro quente com uma vina, pois comprei dois por R$ 1,00 cada, sendo que em Campo Largo o preço em uma lanchonete era R$ 3,50 cada.

O ônibus voltou por outro caminho até chegar Três Córregos e posteriormente veio pela mesma estrada em que fora, tudo debaixo de muita poeira, sendo que quando cheguei em casa, notei que meu boné que era da cor azul marinho havia mudado de cor; estava totalmente marrom. 
Posteriormente olhei e achei interessante um vídeo no you-tube, onde conta a história da construção da estrada do cerne e me deu vontade de ir para lá novamente.

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