sábado, 5 de julho de 2014

José do Barreiro - História

Do mesmo livro (Por que mudei de exército)  está relatada a experiência da conversão de José do Barreiro e é assim que ele descreve:

- Quando eu era ainda um rapaz, vi em casa de um conhecido nosso, uma Bíblia. Abri o livro e li: “No princípio criou Deus o céu e a terra, e a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas...” Gênesis 1:1

Procurei comprar o livro e acertamos o preço; rachar estacas de arueira, para cerca, durante trinta dias. Aceitei a proposta, e após trinta dias saí com o precioso volume embaixo do braço. Lia-o com gosto e sabor. Tinha me casado, já estava no meu lar, quando meu pai fez uma longa viagem ao estado do Mato Grosso, para visitar um amigo seu de nome Francisco Lessa.
O motivo da viagem era o seguinte: Meu pai tinha escondido Francisco Lessa quando esse era procurado para ser assassinado por questões políticas, em Correntina. Meu pai encontrou Francisco Lessa e este agora era crente. Meu pai falou da Bíblia que possuíamos. Então o Lessa entregou a meu pai um envelope com vinte oito estudos bíblicos breves. Recebi-os e estudei-os com cuidado. Fiquei impressionado ao estudar sobre alguns temas; um deles foi sobre o dízimo. “Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor.”  Lev. 27:30 e 32.

Preparei uma caixa de madeira de cedro e ali fui depositando os dízimos do Senhor. Um dia alguém virá buscá-los. Depois veio a observância do sábado: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar, seis dias trabalharás e farás toda tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; Não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra e o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou. Portanto abençoou o senhor o dia sétimo e o santificou.” Êxodo 20:8-11 Quando li sobre este texto, comecei a ajeitar minha vida. Eu tinha um tio, meu vizinho, com quem mantinha séria intriga. Era tão forte nossa rixa que um dia cheguei a desafiá-lo para uma luta de fato. Felizmente ele desistiu. Mas eu não o saudava nem lhe solicitava a benção de dever de sobrinho ao tio.
 
Agora com a chegada dos folhetos e o exame mais profundo da Bíblia, comecei a falar da observância do sábado e também o saudava. Um dia, meu tio Francisco disse a meu irmão: “O José andava procurando brigas comigo e não me saudava agora tudo mudou e sei que é a Bíblia que fez isto. Quero arranjar uma.”

A reunião de José passou a crescer, juntavam-se na casa de fazer farinha de mandioca. Em Santa Maria da Vitória havia uma missão protestante e lá foi alguém a mando do grupo comprar oito Bíblias,. Isto causou surpresa  aos homens da missão e mandaram ao Arrojado um missionário para levar luz aos novos conversos. O missionário foi muito bem recebido. Hospedou-se com o José e então falou que admirava como ele tinha seguido um grave erro observando o sábado. Aí travou-se uma luta de palavras entre o missionário e José. Aquele queria provar que o dia do repouso para o cristão seria o domingo. José defendia o sábado do Senhor. A luta estendeu-se até uma hora da manhã.

José encerrou assim:

- Deus disse: “Lembra-te do dia do sábado”, só Deus pode mudar; se o senhor me mostrar na Bíblia onde Deus disse: “Esquece-te do sábado e lembra-te do domingo”, então eu mudo e deixo de observar o sábado. Caso contrário, nada feito.

O missionário, decepcionado, respondeu; “O Senhor quer mesmo ser sabatista...” José interrogou-o: “O que é sabatista?”  Continuou o missionário: “São uns gatos pingados que andam de mala na mão vendendo livros.”

No dia seguinte o missionário retirou-se um tanto desajeitado pela derrota diante dos conhecimentos bíblicos de um humilde roceiro que nem sabia da existência dos adventistas.

José procurou os interessados e falou: “Existe um povo que como nós guarda o sábado e um dia eles virão aqui.” Na verdade em Santa Maria da Vitória havia algumas senhoras adventistas, mas até aquela época nada sabiam da existência destes interessados do Arrojado. 


A Colportagem chega lá - Em 1943, o colportor João Malaquias subiu o rio Corrente e na embocadura do Arrojado preferiu esse para vender livros aos fazendeiros que o margeiam.

Depois de dois dias, já à tarde, com bastante fome, bateu a uma porta sem saber o que se passava lá dentro.

Deixemos o José retomar a narrativa:

- O homem bate à minha porta, só duas moças estavam em casa, eram Filomena e Ambrosina, olharam por uma fresta e viram um homem bem vestido usando gravata! Uma delas correu e foi me chamar na casa de farinha do vizinho, onde eu estava. “Pai, vai em casa que tem um homem chamando e eu não sei conversar com ele, usa gravata.” Atendi o moço. Homem de conversa sadia. Mostrou-me uns livros que vendia. Eu pedi um e perguntei: Qual a sua religião moço? O senhor é diferente dos homens “com quem tenho conversado”.

Respondeu o moço: “Boa pergunta. Eu sou adventista do sétimo dia.”  Fiquei na mesma e disse: “Não sei o que seja isso.”  Ele voltou a explicar: “Adventista é um povo que guarda o sábado e espera a volta de Jesus.” Eu dei um grito de alegria!

O senhor é do povo que eu espero, é o senhor mesmo. Como o missionário disse: de mala na mão vendendo livros...   Meu amigo (continuou José), nós aqui guardamos o sábado e é muita gente.” Juntei todos os interessados à noite e o moço falou-nos da bendita verdade. Este moço era o colportor João Malaquias, a quem entreguei também os dízimos que tinha na caixa de cedro.
Ele voltou para entregar os livros, deu-nos algumas instruções e prometeu-nos  mandar um pastor. Estamos esperando o senhor há quatro anos – encerrou José.

Passamos três dias no Arrojado, nessa minha viagem chamada de reconhecimento.

A maior fonte de renda do local era a criação de porcos. Todos interessados possuíam porcos, fumavam, e tomavam café. Pensei de mim para mim: só Deus pode modificar vícios tão errôneos e arraigados como deste povo.
No dia de saída todos choraram. Voltei três meses depois, organizamos a congregação e fizemos uma classe batismal. Deus operou maravilhosamente. Homens que fumavam há cinquenta anos abandonaram o vício. As manadas de porcos foram vendidas. Ensinei as mulheres a torrar cereais para fazer um substituto para o café. Arranjamos uma professora adventista, a Idália Pereira, da cidade de Januária. Essa irmã deu um testemunho cristão tão nobre que nunca mais se apagou ali a sua influência. Foi uma ajuda do céu. 

No ano seguinte, o Pastor Paulo Seidl batizou quarenta almas em dois atos, um em 11-4-48 e outro em 30-7-48.

Logo começamos a construção de uma igreja. A congregação dispunha de um bom grupo de jovens. Trabalhadores, bons cantores, fazia gosto ir aos cultos e ouvi-los entoar os hinos de Sião. A igreja de Arrojado floresceu e cresceu para todos os quadrantes

A sequência é esta: Lessa semeou; João Malaquias regou; Deus deu o crescimento e o pastor Pita colheu.

“Volta com alegria trazendo consigo os seus molhos.”

Só a eternidade irá testemunhar quantas almas os vinte e oito estudos do irmão Francisco Lessa irão ganhar para Cristo.

Só a igreja do Arrojado chegou a ter cento e vinte almas batizadas e continua viva.

Oh, Deus! Quão insondáveis são os Teus caminhos, quem os poderá conhecer?     

“Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.”  Salmos 126:6

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