Do
mesmo livro (Por que mudei de exército)
está relatada a experiência da conversão de José do Barreiro e é assim
que ele descreve:
- Quando eu era ainda um rapaz, vi em casa de um conhecido nosso, uma Bíblia. Abri o livro e li: “No princípio criou Deus o céu e a terra, e a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas...” Gênesis 1:1
Procurei comprar o livro e acertamos o preço; rachar estacas de arueira, para cerca, durante trinta dias. Aceitei a proposta, e após trinta dias saí com o precioso volume embaixo do braço. Lia-o com gosto e sabor. Tinha me casado, já estava no meu lar, quando meu pai fez uma longa viagem ao estado do Mato Grosso, para visitar um amigo seu de nome Francisco Lessa.
O motivo da viagem era o
seguinte: Meu pai tinha escondido Francisco Lessa quando esse era procurado
para ser assassinado por questões políticas, em Correntina. Meu pai encontrou
Francisco Lessa e este agora era crente. Meu pai falou da Bíblia que
possuíamos. Então o Lessa entregou a meu pai um envelope com vinte oito estudos
bíblicos breves. Recebi-os e estudei-os com cuidado. Fiquei impressionado ao
estudar sobre alguns temas; um deles foi sobre o dízimo. “Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das
árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor.” Lev. 27:30 e 32.
Preparei uma caixa de madeira de cedro e ali fui depositando os dízimos do Senhor. Um dia alguém virá buscá-los. Depois veio a observância do sábado: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar, seis dias trabalharás e farás toda tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; Não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra e o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou. Portanto abençoou o senhor o dia sétimo e o santificou.” Êxodo 20:8-11 Quando li sobre este texto, comecei a ajeitar minha vida. Eu tinha um tio, meu vizinho, com quem mantinha séria intriga. Era tão forte nossa rixa que um dia cheguei a desafiá-lo para uma luta de fato. Felizmente ele desistiu. Mas eu não o saudava nem lhe solicitava a benção de dever de sobrinho ao tio.
Agora com a chegada dos folhetos e o exame mais profundo da Bíblia, comecei a falar da observância do sábado e também o saudava. Um dia, meu tio Francisco disse a meu irmão: “O José andava procurando brigas comigo e não me saudava agora tudo mudou e sei que é a Bíblia que fez isto. Quero arranjar uma.”
A reunião de José passou a crescer, juntavam-se na casa de fazer farinha de mandioca. Em Santa Maria da Vitória havia uma missão protestante e lá foi alguém a mando do grupo comprar oito Bíblias,. Isto causou surpresa aos homens da missão e mandaram ao Arrojado um missionário para levar luz aos novos conversos. O missionário foi muito bem recebido. Hospedou-se com o José e então falou que admirava como ele tinha seguido um grave erro observando o sábado. Aí travou-se uma luta de palavras entre o missionário e José. Aquele queria provar que o dia do repouso para o cristão seria o domingo. José defendia o sábado do Senhor. A luta estendeu-se até uma hora da manhã.
José encerrou assim:
- Deus disse: “Lembra-te do dia do sábado”, só Deus pode mudar; se o senhor me mostrar na Bíblia onde Deus disse: “Esquece-te do sábado e lembra-te do domingo”, então eu mudo e deixo de observar o sábado. Caso contrário, nada feito.
O missionário, decepcionado, respondeu; “O Senhor quer mesmo ser sabatista...” José interrogou-o: “O que é sabatista?” Continuou o missionário: “São uns gatos pingados que andam de mala na mão vendendo livros.”
No dia seguinte o missionário retirou-se um tanto desajeitado pela derrota diante dos conhecimentos bíblicos de um humilde roceiro que nem sabia da existência dos adventistas.
José procurou os interessados e falou: “Existe um povo que como nós guarda o sábado e um dia eles virão aqui.” Na verdade em Santa Maria da Vitória havia algumas senhoras adventistas, mas até aquela época nada sabiam da existência destes interessados do Arrojado.
Depois de dois dias, já à tarde, com bastante fome, bateu a uma porta sem saber o que se passava lá dentro.
Deixemos o José retomar a narrativa:
- O homem bate à minha porta, só duas moças estavam em casa, eram Filomena e Ambrosina, olharam por uma fresta e viram um homem bem vestido usando gravata! Uma delas correu e foi me chamar na casa de farinha do vizinho, onde eu estava. “Pai, vai em casa que tem um homem chamando e eu não sei conversar com ele, usa gravata.” Atendi o moço. Homem de conversa sadia. Mostrou-me uns livros que vendia. Eu pedi um e perguntei: Qual a sua religião moço? O senhor é diferente dos homens “com quem tenho conversado”.
Respondeu o moço: “Boa pergunta. Eu sou adventista do sétimo dia.” Fiquei na mesma e disse: “Não sei o que seja isso.” Ele voltou a explicar: “Adventista é um povo que guarda o sábado e espera a volta de Jesus.” Eu dei um grito de alegria!
O senhor é do povo que eu espero, é o senhor mesmo. Como o missionário disse: de mala na mão vendendo livros... Meu amigo (continuou José), nós aqui guardamos o sábado e é muita gente.” Juntei todos os interessados à noite e o moço falou-nos da bendita verdade. Este moço era o colportor João Malaquias, a quem entreguei também os dízimos que tinha na caixa de cedro.
Ele voltou para entregar os
livros, deu-nos algumas instruções e prometeu-nos mandar um pastor. Estamos esperando o senhor
há quatro anos – encerrou José.
Passamos três dias no Arrojado, nessa minha viagem chamada de reconhecimento.
A maior fonte de renda do local era a criação de porcos. Todos interessados possuíam porcos, fumavam, e tomavam café. Pensei de mim para mim: só Deus pode modificar vícios tão errôneos e arraigados como deste povo.
No dia de saída todos
choraram. Voltei três meses depois, organizamos a congregação e fizemos uma
classe batismal. Deus operou maravilhosamente. Homens que fumavam há cinquenta
anos abandonaram o vício. As manadas de porcos foram vendidas. Ensinei as
mulheres a torrar cereais para fazer um substituto para o café. Arranjamos uma
professora adventista, a Idália Pereira, da cidade de Januária. Essa irmã deu
um testemunho cristão tão nobre que nunca mais se apagou ali a sua influência.
Foi uma ajuda do céu.
No ano seguinte, o Pastor Paulo Seidl batizou quarenta almas em dois atos, um em 11-4-48 e outro em 30-7-48.
A sequência é esta: Lessa semeou; João Malaquias regou; Deus deu o crescimento e o pastor Pita colheu.
“Volta com alegria trazendo consigo os seus molhos.”
Só a eternidade irá testemunhar quantas almas os vinte e oito estudos do irmão Francisco Lessa irão ganhar para Cristo.
Só a igreja do Arrojado chegou a ter cento e vinte almas batizadas e continua viva.
Oh, Deus! Quão insondáveis são os Teus caminhos, quem os poderá conhecer?
“Aquele
que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com
alegria, trazendo consigo os seus molhos.” Salmos 126:6
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