sábado, 5 de julho de 2014

Descendo a serra II - História

Também na década de 80. - Nessa oportunidade fomos em cinco pessoas; Eu, meus irmãos Vilandir e Floramil e os colegas Sérgio e Osi.

Aproveitando um feriado em uma 6ª. Feira,  embarcamos no trem e fomos até a  estação de Banhados, ainda no alto da serra.
 
A aventura já começou na estação, pois ali tinha um enorme bode “cheiroso”, que sendo incomodado começou a medir força com os rapazes. Ele era tão forte, que três não podiam segurá-lo. Uma situação cômica foi que ele correu atrás do Osi em volta da estação. Eles desapareceram em um canto da estação, sendo que depois apareceram no outro lado; o Osi correndo e o bode de atrás.

Após a partida do trem,  enquanto  ouvíamos apenas os sons da natureza,  começamos a descer os trilhos no sentido de Morretes.

Naquele dia o sol não deu o ar de sua graça, ficou o dia inteiro nublado e à tarde além do frio começou a chover.

Durante o dia atravessamos vários túneis, inclusive atravessamos em um paralelo que estava desativado, aonde só vimos lama e morcegos.

No começo da  tarde chegamos à estação do Véu de Noiva e ficamos nela  encolhidos, devido o vento e a chuva.
 
Quando à tarde o trem subiu a serra, o Vilandir veio nele, ficando apenas  dois irmãos e os dois colegas e foi aí que começou a verdadeira aventura.

Devido ao clima, era quase que impossível armar a barraca para passar a noite. Eu pensava que nos deixariam  pernoitar ali na estação.  Mas o responsável pela mesma não deixou e quando falamos da intenção de no dia seguinte seguir até o Marumbi, ele falou que o único perigo era o trem, mas naquela tarde/noite não passaria  nenhum deles. (O que ele queria mesmo era livrar-se de nós).

No começo da noite em posse de duas lanternas,  começamos a descer pelos trilhos escorregadios,  porque a água da chuva misturou-se com o óleo diesel acumulado nos dormentes.  A cada passo corríamos  perigo, pois quem estava com a lanterna tinha que iluminar o dormente em que o companheiro pisaria e calcular no escuro para pisar no mesmo lugar para que não desse um passo em falso. Quem conhece o lugar, sabe que é necessário atravessar vários pontilhões. 
 
Minha ideia era chegarmos até o Santuário do Cadeado e ali passarmos o resto da noite. Eu achava que ali haveria um lugar seco e apropriado para armar a barraca, mesmo com a chuva que caíra.

Após atravessarmos alguns túneis e pontes com as roupas molhadas e sentindo no rosto a garoa forte e o vento frio que vinha do mar, ficamos decepcionados quando chegamos ao local e não achamos lugar propício para o pernoite.

Decidimos continuar a caminhada até a estação do marumbi,  mesmo sabendo do perigo que iríamos enfrentar ao atravessar a ponte São João e o Viaduto Carvalho, principalmente na situação em que estava; no escuro e molhado.

Levantei os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro?  O  socorro vem do SENHOR que fez o céu e a terra.  Salmos 121:1 e 2
 
Demos graças a Deus quando uns 200 metros após o Santuário, encontramos um pequeno barraco que os homens que faziam a manutenção da estrada de ferro guardavam os materiais. Na porta não  havia cadeado e sim um arame enrolado em dois pregos.

Amontoamos os sacos de cal e cimento e também pás em um canto e restou apenas lugar para quatro dormirem. Se o Vilandir não tivesse voltado,  teríamos que nos revesar e um teria que ficar em pé enquanto os outros descansavam.

No dia seguinte madrugamos para prosseguirmos no caminho, pois  não sabíamos o horário em que os trens começariam a trafegar.  A chuva e a garoa haviam dado uma trégua, mas levantou-se uma neblina espessa, onde não enxergávamos além de cinco metros.  Foi nessa situação em que atravessamos a ponte São João, (orgulho da engenharia nacional) e posteriormente o Viaduto Carvalho.
 
Devido à cerração não enxergamos o final da ponte e também o rio. Só ouvimos o som das águas serpenteando logo abaixo entre as pedras.

Atualmente é proibido andar em qualquer parte dos trilhos, para evitar acidentes, pois se a pessoa estiver na ponte São João ou no Viaduto Carvalho não há escapatória; ou é atropelado pelo trem ou despenca no precipício.

A distância entre a estação Marumbi  até a de Porto de Cima, cortando pela serra dista mais ou menos um quilômetro, mas fomos pelos trilhos que serpenteando pela  serra dá uma volta de uns oito quilômetros.    Chegamos ao povoado de Porto de Cima, quando os últimos raios do sol poente davam a última espiada na serra que logo adormeceria.

Cansados pela longa caminhada, os três rapazes resolveram esperar o ônibus para Curitiba ali mesmo. Eu e o Zeca resolvemos dar uma esticada até Morretes, apesar de já estar escuro. Para quem não conhece são mais sete quilômetros, sendo quatro quilômetros só de reta.  Enquanto andava, o tênis do Zeca começou a machucar seu pé, visto que quando foi para Curitiba não levou e aquele era emprestado. Ofereci para que trocássemos de tênis, mas isto não resolveu, pois começamos a ficar com os pés machucados.

Resolvemos tirar os tênis e andar descalço, mas como o asfalto não era liso e sim cheio de pequenos pedregulhos sobressalentes começou a fazer bolhas na sola de nossos pés.

Pedimos carona para todos os carros que passavam, mas ninguém se arriscou a parar. Inclusive após a passagem de um deles, averiguamos que era uma rural da polícia militar que também  passou direto.

Chegando finalmente em Morretes, compramos as últimas passagens disponíveis assentados para a viagem que logo se sucederia. Quando o ônibus chegou a Porto de Cima os três rapazes mais algumas pessoas tiveram que viajar em pé, mas de tão cansados que estavam alguns sentaram e até deitaram no corredor do ônibus.


Esse foi um dos passeios inesquecível pela Serra do Mar.

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