Na época do alistamento eu não queria servir, pois trabalhava no Bamerindus.
Posteriormente ouvindo contos de caserna de colegas que serviram, deu-me aquela vontade de ter servido; principalmente porque tenho um primo que fez carreira no exército e outro que fez parte da banda da guarda presidencial em Brasília e vários tios serviram e trabalharam na polícia civil e militar.
Dos seis irmãos homens, só o meu irmão mais novo (Vilandir) serviu no NPOR no quartel do Portão, como aspirante de oficial. Todos os outros foram dispensados por excesso de contingente.
Um colega da mesma idade que trabalhava junto saiu para servir e voltou um ano depois para trabalhar no mesmo setor. Esse contou dos exercícios de sobrevivência que fizeram na serra do mar, onde ao cair da noite, já “mortos” de cansaço e fome, tiveram que correr atrás de galinhas soltas no mato, matá-las e come-las cru mesmo.
Na mesma noite, sem descanso tiveram que escalar e descer novamente o pico olimpo do conjunto marumbi.
Chegando ao acampamento viram vários pães pendurados e correram para comê-los e finalmente matar a fome. Ao chegarem perto dos pães, esses foram pelos ares, pois colocaram explosivos neles, mas assim mesmo, juntaram e comeram as migalhas misturadas com o barro.
O Valmor, outro colega contou que quando serviu, os milicos foram levados no escuro bem no interior de um matagal, bem longe de onde tinha casas ou chácaras e sem comida tinham que se virar para achar o caminho de volta.
Levaram apenas uma pequena
bússola para se basear e foram divididos em duplas.
Como ele nasceu e teve a infância em chácara se saiu até bem, pois foi seguindo curso de pequenos riachos até chegar a um rio maior e dali seguiu-o até encontrar uma ponte ou chácara.
Na alimentação comeu larvas que conseguiu localizar em madeiras podres, sendo essas um bom energético.
Outro colega de banco que serviu em Brasília, contou que na passagem de ano ele estava escalado para vigiar em uma guarita ao fundo do quartel. À meia-noite quando a queima de fogos ficou mais intensa, ele se entusiasmou e com seu fal começou a atirar para o alto. Pegou uma semana de cadeia!
Renato que foi outro colega de banco, contou que um dia em que faziam o treinamento de tiro ao alvo, ele era o soldado 26, mas por engano atirou no alvo do soldado 27 que era seu companheiro do lado. Quando o sargento verificou que havia 10 marcas no alvo 27 e nenhuma no alvo 26, pois cada um tinha que atirar cinco vezes, chegou junto ao Renato que estava deitado em posição de atirar e deu-lhe com a coronha do fal em seu capacete, ao mesmo tempo em que gritou: “Preste a atenção no alvo seu mocorongo!”
O soldado Renato viu estrelas e engatilhou o fal em direção do sargento e falou: “Você vai morrer seu fp.!
Rapidamente os soldados próximos pularam nele e o desarmaram e ele ficou preocupado quando voltaram para o quartel nos caminhões; cada um com seu fal e ele desarmado.
No dia seguinte quando estavam em forma, foi anunciado para que ele desse um passo a frente e após veio a sentença:
Seu comandante imediato com os olhos meio lacrimejosos informou-o que ele foi sentenciado a 120 dias de cadeia, mas como ele era responsável pela comida dos oficiais, conseguiram reduzir para 60 dias.
Dois dias após, o comandante geral reclamou que a comida estava uma droga e seu subordinado imediato, informou-o que o soldado tinha feito uma burrada e contou-lhe sobre o incidente.
Devido ao fato dele ser o responsável pela comida dos oficiais e cumprir com eficiência sua função, e o que ocorreu foi uma reação momentânea, ele perdoou-o e colocou-o novamente na função.
Mas as relações entre o soldado e o sargento nunca mais foram as mesmas.
O expediente no quartel terminava às 17 horas, pois o Renato estudava à noite e o sargento forçava-o a treinar seus galos de briga até às 18 horas.
O soldado Renato esperava vingar-se do sargento, até que um dia foi comissionado para levar a marmita do almoço dele enrolada em um pano de prato até o campo.
No trajeto, abriu a marmita e passou a língua no bife e até mordiscou um cantinho do mesmo e quando viu o sargento comendo o bife pensou: “O cara está comendo o bife que eu passei a língua”
Mas sua vingança ainda não estava completa, pois o sargento não largava de seu pé. Como ele era obrigado a treinar os galos depois do horário, os soldados escalados para guarda naquele setor o conheciam.
Em um dia o soldado escalado do dia estava cochilando na guarita, ele entrou sorrateiramente até onde estavam os galos e soltou todos sem as biqueiras e sem esporeiras, e sem ser percebido pulou o muro e foi embora.
No dia seguinte, o sargento
que era um homem rude, chorou quando encontrou alguns galos mortos e outros
desfigurados.
Como não conseguiram descobrir quem soltou os galos, o soldado que estava de guarda no dia pegou três dias de cadeia.
No local do treinamento eram
dois batalhões diferentes e agiam como se fossem inimigos em guerra real. Se o
soldado de um batalhão fosse capturado pelo inimigo, era preso e passava por
uma série de torturas físicas e psicológicas, para que denunciasse a posição do
inimigo.
Ele próprio teve que
esconder-se em um atoleiro e por baixo da água, respirava pela boca através de
uma vegetação em forma de canudo.
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