São Bento do Sul - História

SÃO BENTO DO SUL – O dia 08 de setembro de 2014 foi feriado em Curitiba e para não ficar em casa sem fazer nada, resolvi ir até alguma cidade próxima para passear e ao mesmo tempo vender uns DVDs de Desenhos Bíblicos e distribuir folhetos com mensagens confortadoras.

A princípio pensava em ir até Areia Branca ou Quitandinha e bem cedo fui até o terminal do Pinheirinho, pois dali sai o ônibus para Quitandinha e quando cheguei já estava no ponto o ônibus para Fazenda Rio Grande e embarquei nele, pensando naquele município embarcar para uma  das localidades supracitadas.

Quando desembarquei na Fazenda Rio Grande antes das sete, lembrei-me que nesse horário estaria saindo da rodoferroviária de Curitiba, um ônibus para São Bento do Sul; uma linda cidade catarinense, onde estive há 40 anos e ali tive bons momentos, pois naquela ocasião pela primeira vez beijei uma garota; uma secretária, linda, loira de olhos azuis; que  se estiver viva, provavelmente está com o rosto  como daquela senhora que fez o papel da sobrevivente Rose no começo do filme Titanic.

Lembrei-me também que naquele tempo fiquei tão empolgado, que até perdi o último ônibus para Curitiba que saía às 16 horas, tendo que pegar outro às 20 horas para Rio Negro, para após embarcar às 22 horas para nossa capital.

Em Rio Negro também não queriam me vender passagem, pois ainda era menor de idade.  Sorte que meu pai tinha assinado uma declaração, averbada pelo juizado de menores em que me autorizava a viajar desacompanhado em todo território nacional. 

Na ocasião pensava em descer na BR 116, porque se fosse até a rodoferroviária no centro perderia o último ônibus que faz a linha Vila São Pedro, mas enquanto meus pensamentos vagavam e a distância nos separava, acabei adormecendo e só acordei quando o ônibus estava quase chegando ao centro de nossa capital.

Naquele dia cheguei depois da 1 hora de madrugada em casa, pois perdi o ônibus Vila São Pedro e tive que embarcar no último ônibus que faz a linha Xaxim e andar mais de um quilômetro para chegar em casa.

Quando a pessoa é jovem gosta de aventuras e eu não era diferente. Como vendia tapetes e não gostava de ficar em Curitiba, ia aleatoriamente a qualquer colônia ou cidade, desde que fosse fora da capital.

Geralmente ia só com o dinheiro de ida e para voltar e comer algum lanche teria que vender. Muitas vezes quando ia a alguma colônia e não tinha mais ônibus para voltar, tinha que andar vários quilômetros e eventualmente conseguia alguma carona.

Em caso de desaparecimento, meus pais não saberiam nem por onde começar a procurar, pois nunca falava aonde ia e muitas vezes decidia apenas quando estava no centro. Creio que naquele tempo ia onde soprava o vento ou para onde estava virado o meu nariz. 

Considerando os fatos que aconteceram há 40 anos, resolvi ir até São Bento do Sul.

Embarquei no ônibus e achei interessante a viagem, pois ao passar em Agudos do Sul, vi alguns caminhões antigos (do meu tempo) e em frente de uma loja de implementos agrícolas vi estacionada uma carroça de quatro rodas de madeiras com chapa de ferro e nela atrelada dois cavalos.

Chegando a São Bento do Sul de onde eu tinha uma vaga lembrança, saí do terminal rodoviário e comecei a fazer ofertas dos DVDs e fiquei contente, pois na primeira oferta vendi dois.

Ali vi belas casas com lindos jardins e continuei vendendo principalmente nos comércios e entregando folhetos e até às 15 horas vendi todos. 

Ao descer em uma rua com grandes casas e terrenos arborizados, quando estava prestes a bater palmas em uma casa, não vi pessoas, mas apenas ouvi que uma senhora disciplinava uma criança; ela dizia: - “Eu falei para você não fazer tal coisa... agora você vai apanhar! ... Tire a mão!”  

Eu não poderia interromper aquele momento solene.... e como estava em uma rua sem outras saídas, segui adiante e só ouvi o barulho de algumas chineladas e em seguida o choro de uma criança; então após ir nas outras casas, voltei e bati palmas naquela casa.

Quem saiu na janela, foi uma menina que ainda estava com lágrimas nos olhos e ao chamar a sua mãe, lhe ofereci meus produtos e entreguei um folheto e segui o meu caminho.

Aquela senhora tentava educar sua filha de acordo com o modelo bíblico exercido há séculos, mas recentemente nossos legisladores aprovaram uma lei que não pode nem dar uma palmada no filho.

Não sou contra o estatuto da criança e do adolescente, pois elas devem ser amparadas e seus direitos respeitados, bem como os abusos devem ser apurados e coibidos, mas essa lei que proíbe dar uma palmada no filho que erra é outro extremo.

O estado e a escola não estão preparados para preencher essa lacuna que é de responsabilidade dos pais. 

Infelizmente as crianças que não forem educadas em casa e deixadas por conta própria, com certeza aprenderão coisas erradas na rua e a sociedade pagará um alto preço por essa negligência. 

Em Gálatas 6:7 o apóstolo Paulo inspirado por Deus escreveu: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.”

“Há caminhos que para o homem parece direito, mas o fim deles são os caminhos da morte.”  Provérbios 14:12

Aí pensei comigo mesmo; - “Como se inverteram os valores!”

Antigamente os pais mandavam nos filhos; hoje em dia os filhos mandam nos pais!

No meu tempo de estudante os alunos respeitavam os professores; hoje em dia em nosso país, as leis promulgadas dão mais ênfase aos direitos dos alunos e muitas vezes fecham os olhos quanto aos deveres.

O sábio Salomão inspirado por Deus escreveu em Provérbios 22:6  “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.”

Escreveu também em Provérbios 23:13 e 14: “Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá.  Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno.”

E em Provérbios 29:15 escreveu:  “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe.”

Veio-me à memória de quando criança, eu e meus 12 irmãos por muitas vezes apanhamos de nosso pai; os mais velhos é que sentiram mais na pele, mas a educação nos moldes antigos nos livrou de muitos males.

Lembrei-me que um pastor contou sua história para ilustrar um sermão. Disse que quando era garoto, seu pai com muito sacrifício comprou uma monareta para que ele e seu irmão mais novo fossem para a escola. Um dia quando voltavam o irmão pedalando e ele sentado no bagageiro, em uma avenida da cidade onde moravam ele viu vários latões de lixo, pois esse era recolhido só nas quintas feira e o  caminhão ainda não havia passado.

Ele teve uma “brilhante” ideia e disse para o irmão, - “Pedale forte e passe bem ao lado das lixeiras que vou chutar todas!”   

Seu irmão obedeceu e ao passar por elas, ele começou a chutá-las e até achou engraçado quando as viu rolando pela calçada esparramando lixos pelo chão.

Não satisfeito, falou para o irmão ir para o outro lado da avenida e também começou a chutar os latões de lixo, mas logo após tiveram uma triste surpresa quando viram que em uma bicicleta de homem, pedalando mais rápido passou por eles o seu pai e lhes disse: - “Vocês estão à minha esquerda... Lá em casa vamos conversar!”

À esquerda se referido ao dia do juízo, quando Cristo separará os salvos dos perdidos; os salvos à direita e os perdidos à esquerda.

Disse que seu pai usava um grande bigode e ele achava que seu pai era o homem mais forte do mundo e até os vizinhos tinham medo dele. Usava também um chinelo número 42 marca “karatê” que tinha um solado em alto relevo.

Ao chegarem em casa ele amedrontado falou para seu irmão: - “Entre você primeiro, porque você é o dono da bicicleta!”

Seu irmão respondeu: - “Entre você que chutou os latões e deu a ideia!”  

Seu pai resolveu a questão, pois disse: - “Entre os dois!”

Entraram e levaram uma grande surra e brincando o pastor falou que tem a marca do chinelo até hoje, mas nunca mais chutou um latão de lixo.

Parei para almoçar em uma pequena lanchonete e achei caro um x-egg por R$ 8,50 e o suco R$ 4,00, mas o x-egg era bem recheado e não saiu tão caro porque troquei por dois DVDs

Após o almoço bati em uma casa simples de madeira, onde havia um jardim e um quintal bem cuidado; e quem me atendeu foi um senhor de 70 anos que me disse que sua esposa de 61 anos falecera na semana anterior.

Ofereci minhas condolências e quis lhe dar um DVD de hinos confortadores e apesar de insistir ele não aceitou e pegou apenas dois folhetos. 

Ao seguir o meu caminho comecei a refletir;  - “O que é a vida do ser humano?”  O propósito original de Deus não foi apenas para vivermos alguns míseros anos nesta terra, mas sim que vivêssemos eternamente.

Em Salmos 90:10, Moisés escreveu: “A duração da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam aos oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente e nós voamos.”

Em Jó 7:17e 18 está escrito: “Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas sobre ele o teu coração, e cada manhã o visites, e cada momento o proves?

Em Jó 78:9 ele afirma: “Tal como a nuvem se desfaz e passa aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir.”

Em Salmos 6:5 está escrito: “Porque na morte não há lembrança de ti, no sepulcro quem te louvará?”

Davi inspirado por Deus escreveu também em Salmos 115:17; “Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio.”  E no Salmos 146:4 escreveu: “Sai-lhe o espírito, e eles tornam-se em sua terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.”

Em Eclesiastes 9:5 e 6, o sábio Salomão escreveu:    “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.
Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”

Àquela senhora talvez ainda tivesse sonhos, talvez até uma semana antes houvesse cuidado da horta e do jardim, mas agora como milhões antes dela, como uma sombra havia passado, deixando atrás de si apenas saudades.

Aí me lembrei da exortação feita pelo sábio Salomão a mais ou menos 3000 anos atrás, escrito em  Eclesiastes 9:10 “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”

Antes das 15 horas vendi o último DVD e aguardei o ônibus na rodoviária que saiu às 16 horas.

Só que dessa vez não dormi durante o trajeto e para não ir até o centro, desci no Pinheirinho, pois era o último ponto em que o ônibus parava antes do ponto final.

Como era feriado em Curitiba e teria que pegar três ônibus, resolvi ir a pé e após andar mais uns três quilômetros, às 19 horas cheguei em minha casa.