sábado, 5 de julho de 2014

Você já foi à Bahia? - História

Em fevereiro de 2012, justamente na semana em que começaria as aulas, eu soube que meu sobrinho Emerson, que trabalha com entregas em um furgão novo  Master da Renaut, iria até a Bahia para efetuar entregas de livros.
Entre ida e volta seriam 4800 quilômetros e  resolvi acompanhá-lo e assim o ajudaria em conduzir o veículo.
Conversei com a direção do colégio e como me deviam dois dias, ficou acertado que eu poderia ir, mas ficaria em débito com a escola em três dias.
Foi uma viagem muito interessante, pois conheci lugares onde nunca tinha pisado antes.
 
Saímos às 3h30m da madrugada de domingo e seguimos em direção a São Paulo, sendo que o Emerson foi na direção.  Após passar a capital daquele estado, ele entregou-me o furgão para que eu a conduzisse.


A princípio fiquei preocupado, pois nunca dirigira um carro tão novo, avaliado em R$ 80.000,00 e esse estava carregando com mais ou menos duas toneladas de livros. Após alguns quilômetros rodados, peguei a manha e segui adiante, parando lá pelas 14 horas, já em Minas Gerais para o almoço.
Aconteceu um fato até engraçado na churrascaria, pois quando o Emerson foi pagar a conta e entregou sua ficha e também a minha; o caixa que parecia um rapaz meio alegre, perguntou-lhe: - “Vocês estão juntos?” – O Emerson que é meu sobrinho pensou que ele se referia à conta, pois lhe havia entregado as duas fichas, e respondeu: - “Estamos!”

O rapaz disse-lhe: - “Que lindo!... á quanto tempo?”

Aí o Emerson caiu em si e viu a que ele se referiu com a ardilosa pergunta e disse-lhe: - “Sai fora jacaré!”

Seguimos viagem até perto de Belo Horizonte, onde o Emerson assumiu a direção novamente e continuamos viagem até uma pequena pousada em um posto de gasolina.

Em Governador Valadares, Betim e próximo a Belo Horizonte, vimos montanhas de minérios, creio que por isso o nome dado àquele grande estado foi Minas Gerais.

Para economizar, nossa intenção era pousarmos no furgão; eu dormiria na frente e ele no interior; mas como estava muito calor, averiguamos o preço na pousada e como não era tão caro, descansamos muito melhor nela mesmo.
 
Na madrugada seguinte começamos a viajar novamente tendo eu no volante; dirigi seis horas diretas, logo em seguida o Emerson dirigiu 4 horas e dirigi novamente mais três horas, passando novamente para o Emerson que levou a Van até Feira de Santana, aonde chegamos mais ou menos às 21 h.

Já na casa do empresário, esse forneceu pouso e também pagou o jantar, sendo que no dia seguinte, seguimos viagem para a entrega dos livros nas cidades de Morro do Chapéu e Retirolândia.

Dois pontos que chamaram minha atenção: Um positivo e outro negativo!

O positivo foi que apesar de que a Bahia estava enfrentando a greve da polícia militar, o povo baiano é muito atencioso e hospitaleiro.  Quando lhes era pedido alguma informação, nos davam toda a atenção e passavam as informações com riquezas de detalhes.
 
O negativo era que nas cidades pequenas, era dificultoso achar cartão de créditos para telefone celular e os telefones públicos estavam fora de funcionamento.

Ao passarmos por Vitória da Conquista estranhamos que o comércio estava quase todo fechado. O frentista do posto informou-nos, que era devido à greve da polícia  militar e no dia anterior havia tido vários arrastões e saquearam vários estabelecimentos comerciais e aquele posto também fora assaltado.

Informou-nos também que no dia anterior, 22 pessoas haviam sido assassinadas. Assim sem mais delongas, resolvemos seguir o caminho o mais rápido possível. 

De Vitória da Conquista para Feira de Santana, na rodovia tem muitas retas que parece que não tem fim, pois são dezenas de quilômetros que não precisa virar o volante.

Quando seguimos de Feira de Santana para o Morro do Chapéu, tive a certeza de que moramos em um estado abençoado; sol e chuvas o ano inteiro.

Começamos a rodar em um lugar que apesar de ser muito bonito, já se fazia sentir a falta de chuvas.

Passamos em algumas pontes onde o rio já havia secado. Muitos açudes estavam com pouquíssima água. Em algumas cidades era fácil ver caminhões pipas e na estrada vimos em dois lugares, caminhões abastecendo umas charretes conduzidas por meninos com recipiente para água, para matar a sede de sua família que provavelmente moravam longe da rodovia.  Conforme informações faziam quatro meses que não chovia.

Na BR 116, em sua maior parte, o trânsito de carros e caminhões é intenso, tornando-o muito perigoso.
 
Por duas vezes tive que tirar o furgão para o acostamento para que não fosse atingido por uma carreta e por duas vezes o Emerson também teve que fazer o mesmo.

Durante a viagem vimos muitos motoristas de caminhões, inclusive de um ônibus de linha que eram imprudentes, Faziam ultrapassagens arriscadas, colocando assim tanto a própria vida como a de terceiros em perigo. Vimos também algumas carretas tombadas no acostamento.

De madrugada em um posto de combustível, conversamos com um caminhoneiro que falou que dirigira 48 horas diretas sem dormir; e ali dormira 3 horas e já iniciaria a viagem novamente.

Tanto em Morro do Chapéu como em Retirolândia a Secretária da Educação, agradeceu pela entrega e elogiou-nos pela eficiência, pois estavam começando a jornada pedagógica.

Após as entregas, iniciamos a viagem de retorno que daria mais 2400 quilômetros.
 
Antes de começarmos a viagem, o Emerson que já conhecia a região, falou-me de umas famílias paupérrimas da Bahia que moravam na beira da estrada, entre Vitória da Conquista e Feira de Santana e viviam de ajudas deixadas por motoristas que passavam.
 
Falou também que o lugar era muito perigoso, pois já assistira até uma reportagem de uma senhora que parou para ajudar e as pessoas saquearam seu carro, roubando até dinheiro e documentos.

Então consegui com o meu vizinho Nivaldo, irmão adventista que trabalha com assistência social, vários quilos de mantimentos; principalmente arroz, macarrão, açúcar e leite em caixinhas para que fosse distribuído, quando passássemos pelo local.

Na ida, vi que a situação daquele pessoal realmente não era boa. Então separei os ingredientes em nove sacolas contendo em média 13 a 15 quilos de mantimento em cada uma.

Só que quando chegamos ao local e o Émerson parou o furgão na 3ª faixa, pois na estrada não tinha acostamento, comecei a tirar rapidamente as sacolas do carro e entreguei-as para uma senhora; logo em seguida apareceram mais duas e o Emerson começou a bater no vidro que divide o interior do mesmo e a gritar.

Pensei que era porque estavam chegando mais pessoas para invadir e também sabia que um caminhão estava subindo a serra naquela via, pois o ultrapassamos momentos antes e mais rápido tirei as sacolas do furgão, inclusive despejei até uns ingredientes que era para nosso lanche.

Na verdade o Emerson estava gritando para entregar só um kit, pois havia mais famílias pela frente. Respondi-lhe que agora já era tarde, mas disse para as senhoras repartirem com as outras famílias.

Perto de meia-noite, estacionei o furgão em um posto de gasolina perto de Teófilo Otoni MG para o descanso e dormimos no furgão; eu no banco da  frente e o Emerson em um colchão no interior, pois esse já estava vazio.
 
Exatamente às 2h52m da madrugada, sem que falasse com meu sobrinho, recomecei a viagem, deixando-o viajar deitado no colchão, parando apenas uns 200 quilômetros após, quando já amanhecia o dia. Era como se estivesse dirigindo um carro roubado, levando o dono como refém.

Revezando-se na direção chegamos ao anoitecer na via Dutra a e para mim que não conhecia São Paulo e nem a rodovia foi um sufoco, pois após dirigir uns 50 quilômetros por ela, tive que passar novamente para o Emerson que por sua vez já cochilava, pois a velocidade média em que os carros trafegavam era  100 kms/h.

As luzes que me circundavam, passavam tão rápidas que era como se eu estivesse dirigindo em um enorme vídeo-game tridimensional.

Quando estava ultrapassando uma carreta, notei que ela estava avançando no meu lado da faixa, deixando-me praticamente espremido entre ela e a mureta, naquela velocidade.

Depois de jantarmos e pousarmos perto de Registro SP, na madrugada seguinte  com o Emerson na direção, finalmente chegamos às 8 horas da manhã em Curitiba; Graças ao bom Deus!

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