Este é outro relato do livro Por que mudei de exército.
VITÓRIA DA CONQUISTA - Cidade privilegiada do sudoeste baiano, Conquista divide as matas do sul e a região sertaneja. Foi a primeira vez que cheguei a um distrito missionário já pronto e organizado. De fato a cidade estava bem servida; uma linda igreja, escola paroquial, gente animada. A juventude boa, tudo! Só uma coisa não me agradara, quase todo o trabalho adventista resumia-se a três cidades: Conquista, Itambé e Cândido Sales.
Após arrumar a igreja,
começamos o processo de interiorização da obra do Senhor. O distrito
missionário de Vitória da Conquista, naquele ano 1960, era composto de 20
grandes municípios, um pouco maior que os estados de Alagoas e Sergipe.
Vitória da Conquista é
cidade de clima europeu. Gente muito rica. Em contraposição, uma desigualdade
estupefata; ao lado do luxo e da riqueza dos fazendeiros, uma miséria gritante
de pobreza. Só um acontecimento muito sério começou a esquentar o grande
distrito.
Um senhor de nome
Temístocles procurou-me justamente num dia que eu não estava. Falou a minha
esposa:
- Vim aqui pedir ao pastor
sabatista, para me batizar. Não sou eu só não, é muita gente, quase cinquenta
pessoas. É longe daqui, dá umas quinze léguas. É muito difícil chegar até lá. É
no município de Condeúba. – Disse mais: - Eu fui ao pastor batista para ele me
batizar; quando eu disse que guardo como repouso o sétimo dia da semana, o
sábado, o pastor batista disse-me que não batizava guardando o sábado e
mandou-me aqui falar com o pastor sabatista. A senhora manda seu marido na
minha casa para resolver este negócio.
Dona Cecília, tomou lápis e
papel e anotou o seguinte: “Seu marido toma o
caminhão aqui em Conquista, em frente ao Hotel Condeúba, quando deixar a
estrada de Brumado, toma a de Condeúba, duas léguas depois do entroncamento,
seu marido pede ao motorista para mostrar a entrada para a Fazenda Pau-Ferro.”
Com esses dados na mão e a
notícia de uma nova congregação, atirei-me à procura do Sr. Temistocles. O
Hotel Condeúba ficava muito perto de nossa residência. Lá encontrei o motorista,
acertamos a viagem, o local e o homem muito conhecido lá.
Uma ótima recepção, um sono
profundo, um acordar feliz.
Então perguntei ao Sr.
Temístocles:
Ele apontou para um grande
rádio de pilhas e disse-me:
- Foi por intermédio desse
aparelho que o pastor Roberto Rabelo passou a instruir-nos. – Mostrou-me vários
livros, entre eles, O Conflito dos Séculos.
Na reunião da noite
estiveram presentes cerca de 120 pessoas de toda a vizinhança. Organizamos uma
classe bíblica com 65 alunos. Semanalmente eu, ou o colportor Lucindo Barreto
íamos instruir os candidatos ao batismo.
Logo, três meses depois,
houve o primeiro batismo, quarenta e duas almas. Em seguida outro com quinze.
Construíram-se duas capelas. Vários jovens foram aos nossos colégios.
Temístocles com os seus, levaram a bendita mensagem a muitas
vilas
e cidades.
Ao pastor Rabelo dirá o
Senhor Jesus: “Bem está bom e fiel servo,
sobre o pouco foste fiel sobre o muito te colocarei.”
FEIRA
DE SANTANA – Feira, como comumente se trata a princesa do
sertão, é a cidade de mais de duzentos mil habitantes, cheia de muitos
privilégios; um entroncamento rodoviário invejável, a 108 quilômetros da
capital. Estradas pavimentadas cruzam-na de norte a sul, de leste a oeste.
Possui as feiras livres mais
movimentadas do nordeste e foi esse acontecimento que lhe deu o nome.
A igreja cresceu bastante
com nossa chegada, graças ao Céu.
Quando chegamos a Feira,
depois de resolver sérios problemas, começamos a interiorizar a mensagem,
levando-a ao sertão.
Em Feira tivemos
experiências missionárias da mais elevada espécie. Que diríamos pois a nossa
congregação das matas do Ipirá e do incidente de São José do Jacoípe. A mão do
Senhor Deus sempre esteve ao nosso lado.
Certo dia, chegou a nossa
igreja de Feira, um moço e me contou uma linda história missionária. Dizia ele:
- Sou das matas de Ipirá,
Fazenda Cana Brava. Daqui para nossa casa são 72 quilômetros. Há anos atrás,
mudei-me para São Paulo, no sul do país. Lá me encontrei com os adventistas do
sétimo dia, aceitei a mensagem. De lá soube que os meus parentes aqui estavam
recebendo instruções de gente de outras doutrinas. Voltei urgente ao meu povo,
faz três meses. A luta foi cheia de incidentes. Segurei-me na promessa do
Senhor de que Sua palavra não voltará vazia.
Assim falava Agostinho
Miguel de Almeida, com uma linguagem de conferencista vitorioso. Olhou-me e
arrematou;
- Estão todos os meus parentes
prontos para o batismo.
- Quantos? – perguntei.
- Perto de cinquenta –
prontamente respondeu ele.
Lançou-me um desafio:
- Vamos lá, Pastor.
- Iremos sim.
Falou-me:
- Quinta-feira o senhor toma
o ônibus de Ipirá, pede para saltar no ponto do Pau-Ferro (isto é outro
pau-ferro). Aí tem um moço com animal. O senhor sabe montar? – Eu ri apenas.
- O ônibus passa no
Pau-Ferro às 19 horas, aí o senhor viaja só duas leguazinhas para as matas,
viaja a cavalo, seja a que hora o senhor chegar, tem gente o esperando para uma
pregação.
Perguntaram se aceitaria
logo uma refeição. Respondi que primeiro iria alimentar as almas para depois
cuidar de mim.
Molhado pela chuva falei ao
povo. Não tenho palavras para descrever a nossa satisfação. Pregando como Paulo
quando o sermão prolongou-se até a meia-noite.
No dia seguinte, nova
reunião. Entre o povo havia dois jovens irmãos carnais que estavam muito
interessados e faziam-me perguntas sobre pontos e passagens da Sagrada
Escritura.
Dei-lhes mais atenção quando
me falaram assim:
- Nós, eu e minha irmã
saímos das garras do próprio Satanás.
Então me contaram a mais
chocante cena diabólica que já ouvira em minha vida de missionário adventista.
Já dissemos a princípio que as mais chocantes ações diabólicas acontecem na
Bahia, onde a influência africana foi mais forte.
As damas de luxo no passado
entregavam os seus filhos a uma escrava de cor, às vezes oriundas de Angola ou
Moçambique. Essa como ama de leite e babá inculcava na mente do fidalguinho
toda crendice africana, feiticismo e supertições absurdas. Da Bahia, foi-se
exportando tudo para todo o resto do Brasil. E aí está a pantomima de que
ninguém é o autor.
Deixe que o Antonio fale e
conte como saiu das aduncas garras do grande adversário de Cristo Jesus, nosso
Senhor. Disse ele
- Minha mãe frequentava um
“terreiro” de candomblé, meu pai bebia muita pinga e maltratava muito todos
nós. Certo dia nossa mãe fez algumas perguntas ao “pai de santo” sobre a causa
de todos os maus tratos que recebia do nosso pai. Então o “pai de santo” disse
o seguinte: “Você quando morrer irá ser um espírito de luz, para ajudar nos
‘terreiros’ aos espíritos atrasados que estão em trevas; porque você sofre
muito e sabe cuidar dos espíritos sofredores como você é agora.”
“Você abrevia sua
desencarnação muito fácil”, continuou o “pai de santo”. - “Compre uma garrafa
de refrigerante, misture nela uma dose de formicida tatu e beba tudo.”
Continua o rapaz:
- Minha mãe obedeceu
cegamente à macabra ordem do “pai de santo”, então ingeriu a mortífera mistura
falecendo instantes depois.
Logo depois o astuto diz que
minha falecida mãe determinou um dia para se manifestar no “terreiro” e iria
falar a todos claramente. Principalmente ao meu pai e aos filhos.
Essa notícia espalhou-se
como incêndio entre a gente humilde e desavisada. No dia aprazado o “terreiro”
superlotou. Meu pai que nunca havia crido bem nisso lá estava com todos nós. Os
trabalhos que seriam feitos naquele dia foram deixados para serem feitos pelo
espírito de minha mãe. Curas, expulsão de demônios e brigas domésticas,
questões de terras, tudo mais teria ela como ilustre visitante do “terreiro”
para provar que no reino dos espíritos tem “vida e ação”.
Pastor Pita – disse o
Antônio – uma frágil senhora que se deixara enganar por Satanás, sem meditar
nas consequências, deixa filhos e esposo entregues à própria sorte, vai agora
dar lições e curar! Só mesmo coisas de Satanás.
Todos os crédulos estavam
ávidos, ansiosos pela manifestação. (A ignorância das Sagradas Letras deixa
Satanás às soltas, um só verso da Bíblia seria o suficiente para desmascarar o
embuste e o embusteiro. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos
não sabem coisa nenhuma... a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o
seu amor e o seu ódio e a sua inveja já pereceram e já não tem parte alguma
neste século nem coisa alguma que se faz debaixo do Sol.” Eclesiastes 9:5 e 6).
Minha “mãe” chegou ao terreiro. Eu ouvi, a voz
era uma perfeita imitação e até então eu cria ser mesmo ela. O que havia de
diferente era agora a sabedoria que ela ao morrer não levara. Ela discursava
como um pregador. Falou do mundo dos espíritos onde estava “vivendo” e fez apelo
ao meu pai e a nós filhos para que fôssemos para lá. Contou das maravilhas que
gozava ali.
Pastor Pita, agora sei que
não era a minha infeliz mãe quem nos falava e sim o próprio Satanás, num de
seus mais hábeis e antigos métodos de ludibriar e enganar a raça humana;
transformando-se em anjo de luz.
Vejamos o resto da infernal
tragédia. De tanto o inimigo falar da beleza do mundo dos espíritos
prefigurando nossa mãe, meu pai desejou ir para lá e foi ao chefe do terreiro
saber como poderia ir juntar-se a minha mãe para gozarem juntos do mundo
misterioso que ouvira. Nas falas que Satã fazia imitando minha mãe, frisava:
“Só não estou inteiramente feliz porque vocês estão ainda sem querer participar
desse gozo eterno.”
Vejam e pasmem que demoníaco
conselho deu o infernal “pai de santo” ao nosso pai. “Você deve ir viver junto
a sua mulher e gozar das delícias que ela está gozando.”
“Como irei?”
“Como não... todos sabem que
tenho.”
Sentenciou o cavernoso “pai
de santo” – “Ponha na espingarda uma carga pesada, amarre o gatilho com um
cordão e amarre a outra ponta no armador da rede, ponha a boca da espingarda em
cima do peito esquerdo e puxe o gatilho e pronto.”
Meu pai cumpriu a ordem
perfeitamente. Quando a arma disparou uma bala foi justamente cravar-se no
coração. Ele caiu ainda com vida. Alguns de nossos vizinhos tentaram levá-lo à
cidade, mas veio a falecer antes de sair da propriedade.
O alvo agora éramos nós, eu
e minha irmã. Teríamos que por termo à vida para formar a família feliz no
mundo dos espíritos.
Bem nessa ocasião, chegou
aqui o Agostinho, vindo de São Paulo, pregando a volta do Senhor Jesus e
chamando para a observância da lei e a salvação pela graça de Cristo.
Aceitamos, saímos dos braços de um demônio sanguinário e caímos nas mãos de um
Deus amoroso, puro e santo. Amém!
“Ai
dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós e tem grande
ira, sabendo que já tem pouco tempo.” Apoc. 12:12
Satanás tem seus planos
contra os habitantes da terra. É seu desejo apagar todo o vestígio da imagem de
Deus que ainda resta no homem. Ele quer degradar o homem e animalizá-lo sob seu
controle, pô-lo diante do anjo e dizer: “Eis aí a imagem de Deus.”
Graças ao céu, graças a
Deus, falta mesmo pouco tempo. “E o diabo
que os enganava foi lançado no lago de fogo e enxofre... Esta é a segunda
morte.” Apoc. 20:10 e 14.
“Tragada
foi a morte na vitória... onde está ó morte o teu aguilhão; onde está ó inferno
a tua vitória?” I
Cor. 15:54 e 55.
“Eu
sou a ressurreição e a vida.” S.João 11:25.
O primeiro batismo veio
logo. Se não me falha a memória, trinta e nove almas,; Antônio e a irmã foram
contados. Hoje temos lá uma boa capela construída pelo meu sucessor. Foi tão
florescente que temos atualmente um formidável número de famílias crentes já
batizadas, até 15 léguas distantes da sede.
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