sábado, 5 de julho de 2014

Vitória da Conquista e Feira de Santana - História


 Este é outro relato do livro Por que mudei de exército.
 
VITÓRIA DA CONQUISTA - Cidade privilegiada do sudoeste baiano, Conquista divide as matas do sul e a região sertaneja. Foi a primeira vez que cheguei a um distrito missionário já pronto e organizado. De fato a cidade estava bem servida; uma linda igreja, escola paroquial, gente animada. A juventude boa, tudo!  Só uma coisa não me agradara, quase todo o trabalho adventista resumia-se a três cidades: Conquista, Itambé e Cândido Sales.

Após arrumar a igreja, começamos o processo de interiorização da obra do Senhor. O distrito missionário de Vitória da Conquista, naquele ano 1960, era composto de 20 grandes municípios, um pouco maior que os estados de Alagoas e Sergipe.
Vitória da Conquista é cidade de clima europeu. Gente muito rica. Em contraposição, uma desigualdade estupefata; ao lado do luxo e da riqueza dos fazendeiros, uma miséria gritante de pobreza. Só um acontecimento muito sério começou a esquentar o grande distrito.
Um senhor de nome Temístocles procurou-me justamente num dia que eu não estava. Falou a minha esposa:
- Vim aqui pedir ao pastor sabatista, para me batizar. Não sou eu só não, é muita gente, quase cinquenta pessoas. É longe daqui, dá umas quinze léguas. É muito difícil chegar até lá. É no município de Condeúba. – Disse mais: - Eu fui ao pastor batista para ele me batizar; quando eu disse que guardo como repouso o sétimo dia da semana, o sábado, o pastor batista disse-me que não batizava guardando o sábado e mandou-me aqui falar com o pastor sabatista. A senhora manda seu marido na minha casa para resolver este negócio.
Dona Cecília, tomou lápis e papel e anotou o seguinte: “Seu marido toma o  caminhão aqui em Conquista, em frente ao Hotel Condeúba, quando deixar a estrada de Brumado, toma a de Condeúba, duas léguas depois do entroncamento, seu marido pede ao motorista para mostrar a entrada para a Fazenda Pau-Ferro.”
Com esses dados na mão e a notícia de uma nova congregação, atirei-me à procura do Sr. Temistocles. O Hotel Condeúba ficava muito perto de nossa residência. Lá encontrei o motorista, acertamos a viagem, o local e o homem muito conhecido lá.
Depois de muitos trancos e barrancos, após 4 horas de viagem, chegamos ao local. O motorista parou o caminhão, desceu e mostrou-me a entrada da fazenda com estas palavras: “Não é muito longe; dias atrás fui com este carro apanhar uma carga de farinha de mandioca.” Um ligeiro até logo e lá se foi o caminhão e lá vou em mato adentro com uma pasta na mão, em busca da Fazenda Pau-Ferro. 
Logo adiante, numa clareira, aconteceu o que jamais me acontecera na vida, encontro-me com mais de meia dúzia de raposas na época do cio e um dos machos investiu contra mim. Tive que me defender com a pasta, dei muitos gritos a toda força da voz. Finalmente cheguei à casa do homem.
Uma ótima recepção, um sono profundo, um acordar feliz.
Pela manhã visitamos quase todos os interessados. À noite, uma linda reunião com quase 120 pessoas.
Então perguntei ao Sr. Temístocles:
- Como chegou aqui a mensagem adventista?
Ele apontou para um grande rádio de pilhas e disse-me:
- Foi por intermédio desse aparelho que o pastor Roberto Rabelo passou a instruir-nos. – Mostrou-me vários livros, entre eles,  O Conflito dos Séculos.
Na reunião da noite estiveram presentes cerca de 120 pessoas de toda a vizinhança. Organizamos uma classe bíblica com 65 alunos. Semanalmente eu, ou o colportor Lucindo Barreto íamos instruir os candidatos ao batismo.
Logo, três meses depois, houve o primeiro batismo, quarenta e duas almas. Em seguida outro com quinze. Construíram-se duas capelas. Vários jovens foram aos nossos colégios. Temístocles com os seus, levaram a bendita mensagem a muitas vilas e cidades.
Ao pastor Rabelo dirá o Senhor Jesus: “Bem está bom e fiel servo, sobre o pouco foste fiel sobre o muito te colocarei.”  
Hoje aquela parte do sertão baiano está sendo evangelizada.       
FEIRA DE SANTANA – Feira, como comumente se trata a princesa do sertão, é a cidade de mais de duzentos mil habitantes, cheia de muitos privilégios; um entroncamento rodoviário invejável, a 108 quilômetros da capital. Estradas pavimentadas cruzam-na de norte a sul, de leste a oeste.
Possui as feiras livres mais movimentadas do nordeste e foi esse acontecimento que lhe deu o nome.
A igreja cresceu bastante com nossa chegada, graças ao Céu.
Quando chegamos a Feira, depois de resolver sérios problemas, começamos a interiorizar a mensagem, levando-a ao sertão.
Em Feira tivemos experiências missionárias da mais elevada espécie. Que diríamos pois a nossa congregação das matas do Ipirá e do incidente de São José do Jacoípe. A mão do Senhor Deus sempre esteve ao nosso lado.
Certo dia, chegou a nossa igreja de Feira, um moço e me contou uma linda história missionária. Dizia ele:
- Sou das matas de Ipirá, Fazenda Cana Brava. Daqui para nossa casa são 72 quilômetros. Há anos atrás, mudei-me para São Paulo, no sul do país. Lá me encontrei com os adventistas do sétimo dia, aceitei a mensagem. De lá soube que os meus parentes aqui estavam recebendo instruções de gente de outras doutrinas. Voltei urgente ao meu povo, faz três meses. A luta foi cheia de incidentes. Segurei-me na promessa do Senhor de que Sua palavra não voltará vazia.
Assim falava Agostinho Miguel de Almeida, com uma linguagem de conferencista vitorioso. Olhou-me e arrematou;
- Estão todos os meus parentes prontos para o batismo.
- Quantos? – perguntei.
- Perto de cinquenta – prontamente respondeu ele.
Lançou-me um desafio:
- Vamos lá, Pastor.
- Iremos sim.
Falou-me:
- Quinta-feira o senhor toma o ônibus de Ipirá, pede para saltar no ponto do Pau-Ferro (isto é outro pau-ferro). Aí tem um moço com animal. O senhor sabe montar? – Eu ri apenas.
- O ônibus passa no Pau-Ferro às 19 horas, aí o senhor viaja só duas leguazinhas para as matas, viaja a cavalo, seja a que hora o senhor chegar, tem gente o esperando para uma pregação.
Tudo muito bem. O ônibus atrasou o bastante para chegar ao ponto Pau-Ferro às 21 horas, debaixo de forte chuva hibernal. Lá estava um moço com uma boa montaria. Rumamos para as matas. O local se chama Cana Brava e eram 23 horas quando alcançamos a casa onde íamos ter a reunião. Uma surpresa das mais agradáveis. Lá encontrei cerca de setenta pessoas a nossa espera, com fome do “Pão da vida”.
Perguntaram se aceitaria logo uma refeição. Respondi que primeiro iria alimentar as almas para depois cuidar de mim.
Molhado pela chuva falei ao povo. Não tenho palavras para descrever a nossa satisfação. Pregando como Paulo quando o sermão prolongou-se até a meia-noite.
No dia seguinte, nova reunião. Entre o povo havia dois jovens irmãos carnais que estavam muito interessados e faziam-me perguntas sobre pontos e passagens da Sagrada Escritura.
Dei-lhes mais atenção quando me falaram assim:
- Nós, eu e minha irmã saímos das garras do próprio Satanás.
Então me contaram a mais chocante cena diabólica que já ouvira em minha vida de missionário adventista. Já dissemos a princípio que as mais chocantes ações diabólicas acontecem na Bahia, onde a influência africana foi mais forte.
As damas de luxo no passado entregavam os seus filhos a uma escrava de cor, às vezes oriundas de Angola ou Moçambique. Essa como ama de leite e babá inculcava na mente do fidalguinho toda crendice africana, feiticismo e supertições absurdas. Da Bahia, foi-se exportando tudo para todo o resto do Brasil. E aí está a pantomima de que ninguém é o autor. 
Deixe que o Antonio fale e conte como saiu das aduncas garras do grande adversário de Cristo Jesus, nosso Senhor. Disse ele
- Minha mãe frequentava um “terreiro” de candomblé, meu pai bebia muita pinga e maltratava muito todos nós. Certo dia nossa mãe fez algumas perguntas ao “pai de santo” sobre a causa de todos os maus tratos que recebia do nosso pai. Então o “pai de santo” disse o seguinte: “Você quando morrer irá ser um espírito de luz, para ajudar nos ‘terreiros’ aos espíritos atrasados que estão em trevas; porque você sofre muito e sabe cuidar dos espíritos sofredores como você é agora.”
- Minha mãe perguntou: “Como pode ser isto?” – “É muito fácil, você abrevia este acontecimento; para quem tem o sofrimento que você tem, é melhor ir viver num mundo espiritual junto com os espíritos de luz do que isto aqui.”
“Você abrevia sua desencarnação muito fácil”, continuou o “pai de santo”. - “Compre uma garrafa de refrigerante, misture nela uma dose de formicida tatu e beba tudo.”
Continua o rapaz:
- Minha mãe obedeceu cegamente à macabra ordem do “pai de santo”, então ingeriu a mortífera mistura falecendo instantes depois.
Logo depois o astuto diz que minha falecida mãe determinou um dia para se manifestar no “terreiro” e iria falar a todos claramente. Principalmente ao meu pai e aos filhos.
Essa notícia espalhou-se como incêndio entre a gente humilde e desavisada. No dia aprazado o “terreiro” superlotou. Meu pai que nunca havia crido bem nisso lá estava com todos nós. Os trabalhos que seriam feitos naquele dia foram deixados para serem feitos pelo espírito de minha mãe. Curas, expulsão de demônios e brigas domésticas, questões de terras, tudo mais teria ela como ilustre visitante do “terreiro” para provar que no reino dos espíritos tem “vida e ação”.
Pastor Pita – disse o Antônio – uma frágil senhora que se deixara enganar por Satanás, sem meditar nas consequências, deixa filhos e esposo entregues à própria sorte, vai agora dar lições e curar! Só mesmo coisas de Satanás.
Todos os crédulos estavam ávidos, ansiosos pela manifestação. (A ignorância das Sagradas Letras deixa Satanás às soltas, um só verso da Bíblia seria o suficiente para desmascarar o embuste e o embusteiro. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma... a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor e o seu ódio e a sua inveja já pereceram e já não tem parte alguma neste século nem coisa alguma que se faz debaixo do Sol.”  Eclesiastes 9:5 e 6).      
 Minha “mãe” chegou ao terreiro. Eu ouvi, a voz era uma perfeita imitação e até então eu cria ser mesmo ela. O que havia de diferente era agora a sabedoria que ela ao morrer não levara. Ela discursava como um pregador. Falou do mundo dos espíritos onde estava “vivendo” e fez apelo ao meu pai e a nós filhos para que fôssemos para lá. Contou das maravilhas que gozava ali.
Pastor Pita, agora sei que não era a minha infeliz mãe quem nos falava e sim o próprio Satanás, num de seus mais hábeis e antigos métodos de ludibriar e enganar a raça humana; transformando-se em anjo de luz.
Vejamos o resto da infernal tragédia. De tanto o inimigo falar da beleza do mundo dos espíritos prefigurando nossa mãe, meu pai desejou ir para lá e foi ao chefe do terreiro saber como poderia ir juntar-se a minha mãe para gozarem juntos do mundo misterioso que ouvira. Nas falas que Satã fazia imitando minha mãe, frisava: “Só não estou inteiramente feliz porque vocês estão ainda sem querer participar desse gozo eterno.”
Vejam e pasmem que demoníaco conselho deu o infernal “pai de santo” ao nosso pai. “Você deve ir viver junto a sua mulher e gozar das delícias que ela está gozando.”
“Como irei?”
Veio a resposta: “Você tem uma espingarda?”
“Como não... todos sabem que tenho.”
Sentenciou o cavernoso “pai de santo” – “Ponha na espingarda uma carga pesada, amarre o gatilho com um cordão e amarre a outra ponta no armador da rede, ponha a boca da espingarda em cima do peito esquerdo e puxe o gatilho e pronto.”
Meu pai cumpriu a ordem perfeitamente. Quando a arma disparou uma bala foi justamente cravar-se no coração. Ele caiu ainda com vida. Alguns de nossos vizinhos tentaram levá-lo à cidade, mas veio a falecer antes de sair da propriedade.
O alvo agora éramos nós, eu e minha irmã. Teríamos que por termo à vida para formar a família feliz no mundo dos espíritos.
Bem nessa ocasião, chegou aqui o Agostinho, vindo de São Paulo, pregando a volta do Senhor Jesus e chamando para a observância da lei e a salvação pela graça de Cristo. Aceitamos, saímos dos braços de um demônio sanguinário e caímos nas mãos de um Deus amoroso, puro e santo. Amém!
“Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo.” Apoc. 12:12
Satanás tem seus planos contra os habitantes da terra. É seu desejo apagar todo o vestígio da imagem de Deus que ainda resta no homem. Ele quer degradar o homem e animalizá-lo sob seu controle, pô-lo diante do anjo e dizer: “Eis aí a imagem de Deus.”
Graças ao céu, graças a Deus, falta mesmo pouco tempo. “E o diabo que os enganava foi lançado no lago de fogo e enxofre... Esta é a segunda morte.” Apoc. 20:10 e 14.
“Tragada foi a morte na vitória... onde está ó morte o teu aguilhão; onde está ó inferno a tua vitória?”  I Cor. 15:54 e 55.
“Eu sou a ressurreição e a vida.” S.João 11:25.

O primeiro batismo veio logo. Se não me falha a memória, trinta e nove almas,; Antônio e a irmã foram contados. Hoje temos lá uma boa capela construída pelo meu sucessor. Foi tão florescente que temos atualmente um formidável número de famílias crentes já batizadas, até 15 léguas distantes da sede.     


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