No dia 30 de agosto de 2012, em uma
quinta feira, soube que meu sobrinho iria novamente para a Bahia e carregaria
naquele dia mesmo, sendo que a viagem se sucederia na sexta-feira. Como teria
apenas mais uma semana de férias, resolvi mudar meus planos e acompanhá-lo
novamente, pois talvez essa fosse minha última oportunidade.
Na quinta
feira depois do almoço, fomos na gráfica para carregar os livros. Deveríamos
levar livros para Itiúba e Feira de Santana BA, mas o contratante queria também
que levássemos uma enorme mesa de mármore e quatro cadeiras.
Ao buscar a referida mesa em um depósito, averiguamos que a mesma excedia muito a capacidade de carga do furgão, então voltamos para casa para que no dia seguinte, contatasse com o contratante e acertar qual seria a prioridade; a mesa e cadeiras ou os livros.
O mesmo decidiu pela mesa que já estava encaixotada e os livros de Itiúba BA, sendo que na sexta, o Emerson foi descarregar parte dos livros e carregar a mesa, enquanto eu aproveitei o dia, para que junto com minha esposa empacotássemos mantimentos que graciosamente foram cedidos pelo irmão Nivaldo e respectiva esposa, Ivone. Também ajuntamos várias roupas usadas separadas pela minha família.
No sábado à noite carregamos as roupas e mantimentos e no domingo às 4h30m começamos a viagem rumo à Bahia, tendo o Emerson na direção.
Levei uma bronca do sobrinho, pois esse muitas vezes me havia alertado: “Valdir, devagar nas curvas, pois o carro está pesado!” e acrescentou... “Em uma distração dessa pode acabar a viagem!”
Naquele dia rodamos bastante, sendo que pousamos em um posto após Curvelo em Minas Gerais.
Na segunda de madrugada, tendo eu na direção, prosseguimos no caminho novamente, sendo que os mantimentos e roupas, desta vez não entregamos na igreja, mas sim para um pessoal que mora na beira da estrada e passam sérias necessidades perto de Jequié já na Bahia.
Enquanto descarregávamos os materiais, vários caminhoneiros ao passar buzinavam tentando alertar-nos do perigo de assaltos naquele local, conforme foi descrito na página 188.
Entre as pessoas que receberam havia uma senhora morena, já de certa idade que praticamente era só pele e osso e ela juntamente com outras, davam graças à Deus e diziam que essa ajuda foi em boa hora, pois não tinham mantimentos em casa.
A estiagem castiga a região já há vários meses; pois na outra viagem efetuada duas semanas antes, na região de Jequié ainda podia-se ver o verde. A situação estava mais crítica na caatinga, praticamente no sertão baiano. Na zona da mata ainda podia-se ver rios e açudes com um pouco de água; mas agora a seca predomina também nessa.
Eu vendo o rio seco, perguntei para uma das senhoras de onde vem a água que eles bebem e ela respondeu-me que o caminhão pipa é quem traz, mas tem que economizar pois a quantidade é limitada por família.
Disse também que antes do rio secar-se ainda podiam apanhar alguns peixes, mas agora nem isso eles podiam mais.
Ao entrar no carro para prosseguir viagem me comovi com a situação daquele povo, meus olhos se encheram de lágrimas e ao olhar para meu sobrinho que silenciosamente dirigia, via-o com o olhar distante, seguramente refletindo também na situação crítica que presenciara. Na ocasião pensei: No lugar onde moramos, dificilmente falta água; é só abrir a torneira e essa flui cristalina e muitas vezes não agradecemos a Deus por essa dádiva.
Perto do anoitecer já perto de Itatim BA, chegamos ao Posto Irmãos Caminhoneiros, onde trabalha nosso colega Bernardo, para tomarmos um suco e lhe dar-lhe um rápido alô, pois rodaríamos um pouco mais naquele dia.
Esse ao ver-nos, ficou muito contente e convidou-nos para assistir seu batismo que se efetivaria no próximo sábado. Vale ressaltar o caráter desse jovem, pois no lugar onde mora é difícil ter um emprego formal e ele deixou a sociedade que tinha com seu irmão na gerência do comércio no posto; uma sociedade em que ganhava muito bem, para ser empregado do mesmo, ganhando apenas R$ 800,00 por mês, para ter o sábado livre para adorar a Deus.
Seu irmão que pertence a uma igreja evangélica que prega a prosperidade chamou-o de louco e também outros familiares, mas ele não vacilou e firmou-se em seu propósito.
O Emerson agradeceu o convite e disse-lhe que se Deus permitisse, no próximo sábado já estaríamos em casa novamente.
Ao despedir-nos entreguei-lhes um monte de folhetos para seu trabalho pessoal na região.
“Levando geral” – Nem bem o dia havido declinado, enquanto continuávamos
a viagem mais para o norte, passou por nós uma viatura da polícia federal da
Bahia; essa nos ultrapassou e também uma carreta que estava na nossa frente e
mais adiante de armas na mão, nos forçou a parar o carro.
Já estava pensando no que contaria e escreveria e até achei engraçado a abordagem, quando vi meu sobrinho de mãos na cabeça descendo do carro, enquanto o policial lhe apontava uma carabina CT-40. Mas logo em seguida o outro policial mirando-me com uma lanterna no meu rosto e apontando também com uma arma, gritou para que eu descesse lentamente e colocasse as mãos na cabeça e eu desconcertado, desci com as mãos na careca.
Os policiais gritaram para que encostássemos no carro, com mãos para cima e abríssemos as pernas para a revista, sendo que nos apalparam em todos os lugares, procurando alguma arma; inclusive no Emerson apalparam até no cabelo, visto que esse é meio crespo; em mim não foi necessário, pois sou desprovido de filamentos capilares.
Não encontrando nada, perguntaram o que estávamos carregando e solicitaram que abríssemos o furgão, sendo que após certificarem que eram apenas a mesa, cadeiras e livros descontraíram-se um pouco.
Interceptaram o veículo, devido a uma informação pelo rádio de que um furgão na região estava com uma carga roubada e drogas.
Dei-lhes alguns livros “A Grande Esperança” e eles agradeceram ao
mesmo tempo em que perguntaram se a carga era de livros religiosos.
O Emerson informou que eram da Bolsa Nacional do Livro, ao mesmo tempo em que perguntou se queriam ver a nota fiscal, sendo que lhe falaram que não era necessário e como vi que já estavam descontraídos, informei-lhes que a única droga que estávamos carregando era meu sobrinho que torce pelo atlético paranaense, sendo que eu sou coxa-branca. Os policiais riram e nos desejaram boa viagem.
O Emerson informou que eram da Bolsa Nacional do Livro, ao mesmo tempo em que perguntou se queriam ver a nota fiscal, sendo que lhe falaram que não era necessário e como vi que já estavam descontraídos, informei-lhes que a única droga que estávamos carregando era meu sobrinho que torce pelo atlético paranaense, sendo que eu sou coxa-branca. Os policiais riram e nos desejaram boa viagem.
Como à noite a viagem é muito perigosa, logo após passarmos por Feira de Santana pernoitamos em um posto de gasolina e tendo eu na direção, de madrugada seguinte recomeçamos a viagem com destino a Itiúba BA, onde o fornecedor marcou encontro pelas seis e meia na cidade de Capim Grosso.
Chegamos ao lugar marcado e não encontramos o fornecedor e em novo contato ele disse-nos para continuarmos no caminho, que ele vinha no sentido contrário e estava em um carro branco, sendo que ao cruzar por nós daria sinal de luz para que parássemos. Quando nos encontramos, deu o endereço correto e instruções para quem entregar os livros e seguiu seu caminho, sendo que logo em seguida, vimos um caminhão que trafegava com o amortecedor quebrado, quase tombando a carga.
Depois de entregarmos os livros, seguimos para a cidade Senhor do Bonfim, onde o Emerson visitou uma tia e na volta visitou uma prima na cidade de Capim Grosso, sendo visitas breves, pois teríamos que entregar a mesa no mesmo dia.
Triste foi ver a situação climática da região, pois em quase todas as pontes que passávamos não se via água e apenas pedras. Enormes áreas de terras secas, sem gramas, apenas com areia e umas touceiras mais resistentes.
Os açudes quase todos secos, com seu leito rachado. Em um deles vi dois homens afundando mais a terra, no objetivo de encontrar um pouco de água.
O gado magro andava de um lugar para outro, procurando alguma coisa para comer.
Em muitas casas podiam-se ver calhas nos telhados para conduzir água das chuvas para cisternas que devido à longa estiagem provavelmente estavam secas.
Em um grande rio da região, vi um caminhão pipa dentro do leito, tirando um pouco da água que restava. No céu apenas algumas nuvens passageiras que com suas respectivas sombras passavam pela região. Vimos também alguns bois e um jegue mortos na beira da rodovia.
Vi também um homem que plantava alguns pés de feijão bem na beira da rodovia, onde a terra estava menos seca, pois do outro lado do arame só se via terra misturada com o areia.
À tarde entregamos a
mesa e cadeiras em Feira de Santana e começamos a viagem de retorno, pernoitando
em Itatim no Posto Irmão Caminhoneiro. Chegamos ao escurecer e o amigo Bernardo
ainda não chegara e eu cansado, já fui dormir na parte da frente do furgão. O
Emerson foi jantar assistir televisão e posteriormente foi descansar na parte
de trás do furgão, sendo que às 4h do dia seguinte, comecei a dirigir e a cada
quilômetro rodado ficávamos alegres, pois era um quilômetro mais perto de
casa.
Nesse dia dirigi sete horas diretas, sendo que após o Emerson dirigiu cinco; em seguida dirigi mais três horas, sendo que o Emerson trouxe o furgão até depois de Betim em Minas Gerais.
Na madrugada seguinte, recomecei a viagem e quando vi uma placa indicando que dali a 488 quilômetros chegaria a São Paulo, disse para meu sobrinho: “Que bom se fossem apenas 8 quilômetros!”, pois sabia que daquela capital até Curitiba daria mais 408 quilômetros. Numa viagem tão longa e cansativa de mais de 4000 mil quilômetros entre ida e volta, a gente fica ansioso para sair, mais fica mais ainda, para voltar para casa.
Enquanto o Emerson dormia e eu dirigia antes do amanhecer, devido a reformas na pista, vi que em alguns lugares era difícil verificar onde começava e onde terminava a pista, visto que no asfalto ainda não tinha as sinalizações indispensáveis. Nesse trajeto vi duas carretas que estavam caídas fora do acostamento. Vi também não muito longe um meteriorito que se desfazia em fogo. No que o Emerson acordou lhe contei e esse brincando, perguntou-me se fizera algum pedido. Eu disse que sim, para que nós já estivéssemos em casa.
À medida que trafegávamos para o sul, a paisagem começou a melhorar e como o Emerson não tem paciência para tirar fotos, em uma paragem para “tirar água do joelho”, pedi-lhe que tomasse a direção, sendo que assim ele trouxe até Curitiba, enquanto eu tirava algumas fotos.
Chegando a São Paulo, fomos até o terminal do Tietê, onde após deixarmos o furgão no estacionamento, embarcamos no metrô e fomos até o Brás onde o Emerson viu o preço de rolamentos e comprou algumas brocas.
Lá pelas 14h recomeçamos a viagem para Curitiba, sendo que devido a um acidente levamos quase uma hora para percorrer um quilômetro, sendo que mais adiante já na serra, perdemos mais de uma hora devido a um acidente de uma carreta, onde a carga de ferros em rolos ficou espalhada na pista.
Após recomeçarmos a viagem, quase presenciamos um acidente, pois logo em nossa frente, uma carreta que ultrapassava fechou a outra, tendo o motorista da segunda ter que tirar rapidamente o cavalinho para o acostamento, quase capotando o enorme baú que carregava.
Felizmente, lá pelas 19h
graças ao Bom Deus chegamos em segurança em casa, terminando assim mais essa
aventura, que foi a quarta vez que fui para a Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário