Com brados de triunfo, zombaria e imprecação, multidões
de homens maus estão prestes a cair sobre a presa, quando, eis, um denso
negror, mais intenso do que as trevas da noite, cai sobre a Terra. Então o
arco-íris, resplandecendo com a glória do trono de Deus, atravessa os céus, e
parece cercar cada um dos grupos em oração. As multidões iradas subitamente se detêm.
Silenciam seus gritos de zombaria. É esquecido o objeto de sua ira sanguinária.
Com terríveis pressentimentos contemplam o símbolo da aliança de Deus, anelando
pôr-se ao amparo de seu fulgor insuperável.
É ouvida pelo povo de Deus uma voz clara e melodiosa,
dizendo: "Olhai para cima"; e, levantando os olhos para o céu,
contemplam o arco da promessa. As nuvens negras, ameaçadoras, que cobriam o
firmamento se fendem e, como Estêvão, olham fixamente para o céu, e veem a
glória de Deus, e o Filho do homem sentado sobre o Seu trono. Divisam em Sua
forma divina os sinais de Sua humilhação; e de Seus lábios ouvem o pedido,
apresentado ante Seu Pai e os santos anjos: "Aqueles que Me deste quero
que, onde Eu estiver também eles estejam comigo." João 17:24. Novamente se
ouve uma voz, melodiosa e triunfante, dizendo: "Eles vêm! eles vêm!
santos, inocentes e incontaminados. Guardaram a palavra da Minha paciência;
andarão entre os anjos"; e os pálidos, trêmulos lábios dos que mantiveram
firme a fé, proferem um brado de vitória.
Essa voz abala os céus e a Terra. Há um grande
terremoto "como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra;
tal foi este tão grande terremoto". Apoc. 16:18. O firmamento parece
abrir-se e fechar-se. A glória do trono de Deus dir-se-ia atravessar a
atmosfera. As montanhas agitam-se como a cana ao vento, e anfractuosas rochas
são espalhadas por todos os lados. Há um estrondo como de uma tempestade a sobrevir.
O mar é açoitado com fúria. Ouve-se o sibilar do furacão, semelhante à voz de
demônios na missão de destruir. A Terra inteira se levanta, dilatando-se como
as ondas do mar. Sua superfície está a quebrar-se. Seu próprio fundamento
parece ceder. Cadeias de montanhas estão a revolver-se. Desaparecem ilhas
habitadas. Os portos marítimos que, pela iniquidade, se tornaram como Sodoma,
são tragados pelas águas enfurecidas. A grande Babilônia veio em lembrança
perante Deus, "para lhe dar o cálice do vinho da indignação da Sua
ira". Apoc. 16:19 e 21. Grandes pedras de saraiva, cada uma "do peso
de um talento", estão a fazer sua obra de destruição. As mais orgulhosas
cidades da Terra são derribadas. Os suntuosos palácios em que os grandes homens
do mundo dissiparam suas riquezas com a glorificação própria, desmoronam-se
diante de seus olhos. As paredes das prisões fendem-se, e o povo de Deus, que
estivera retido em cativeiro por causa de sua fé, é libertado.
Densas nuvens ainda cobrem o céu; contudo o Sol de quando
em quando irrompe, aparecendo como o olhar vingador de Jeová. Relâmpagos
terríveis estalam dos céus, envolvendo a Terra num lençol de chamas. Por sobre
o estrondo medonho do trovão, vozes misteriosas e terríveis declaram a sorte
dos ímpios. As palavras proferidas não são compreendidas por todos;
entendem-nas, porém, distintamente os falsos ensinadores. Os que pouco antes
eram tão descuidados, tão jactanciosos e desafiadores, tão exultantes em sua crueldade
para com o povo de Deus, observador dos mandamentos, acham-se agora vencidos
pela consternação, e a estremecer de medo. Ouve-se o seu pranto acima do som
dos elementos. Demônios reconhecem a divindade de Cristo, e tremem diante de
Seu poder, enquanto homens estão suplicando misericórdia e rastejando em abjeto
terror.
Disseram os profetas da antiguidade, ao contemplar em
santa visão o dia de Deus: "Uivai, porque o dia do Senhor está perto; vem
do Todo-poderoso como assolação." Isaías 13:6. "Entra nas rochas e
esconde-te no pó, da presença espantosa do Senhor e da glória da Sua majestade.
Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a altivez dos varões será
humilhada; e só o Senhor será exaltado naquele dia. Porque o dia do Senhor dos
exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta,
para que seja abatido." "Naquele dia o homem lançará às toupeiras e
aos morcegos os seus ídolos de prata, e os ídolos de ouro, que fizeram para
ante eles se prostrarem, e meter-se-á pelas fendas das rochas, pelas cavernas
das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por causa da glória da
Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra." Isa. 2:10,
20 e 21.
É impossível descrever o horror e desespero dos que
pisaram os santos mandamentos de Deus. O Senhor lhes deu Sua lei; eles poderiam
haver aferido seu caráter por ela, e conhecido seus defeitos enquanto ainda
havia oportunidade para arrependimento e correção; mas, a fim de conseguir o
favor do mundo, puseram de parte seus preceitos e ensinaram outros a
transgredir. Esforçaram-se por compelir o povo de Deus a profanar o Seu
sábado. Agora são condenados por aquela lei que desprezaram. Com terrível
clareza veem que se acham sem desculpas. Escolheram a quem servir e adorar. "Então
vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus,
e o que O não serve." Mal. 3:18.
A voz de Deus é ouvida no Céu, declarando o dia e a hora
da vinda de Jesus e estabelecendo concerto eterno com Seu povo. Semelhantes a
estrondos do mais forte trovão, Suas palavras ecoam pela Terra inteira. O
Israel de Deus fica a ouvir, com o olhar fixo no alto. Têm o semblante
iluminado com a Sua glória, brilhante como o rosto de Moisés quando desceu do Sinai.
Os ímpios não podem olhar para eles. E, quando se pronuncia a bênção sobre os
que honraram a Deus, santificando o Seu sábado, há uma grande aclamação de
vitória.
À Sua presença "se têm tornado macilentos todos os
rostos"; sobre os que rejeitaram a misericórdia de Deus cai o terror do
desespero eterno. "Derrete-se o coração, e tremem os joelhos",
"e os rostos de todos eles empalidecem." Jer. 30:6; Naum 2:10. Os
justos clamam, a tremer: "Quem poderá subsistir?" Silencia o cântico
dos anjos, e há um tempo de terrível silêncio. Ouve-se, então, a voz de Jesus,
dizendo: "A Minha graça te basta." Ilumina-se a face dos justos, e a
alegria enche todos os corações. E os anjos entoam uma melodia mais forte, e de
novo cantam ao aproximar-se ainda mais da Terra.
"E os reis da Terra e os grandes, e os ricos, e os
tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas
cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí
sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e
da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá
subsistir?" Apoc. 6:15-17.
Cessaram os gracejos escarnecedores. Cerraram-se os
lábios mentirosos. O choque das armas, o tumulto da batalha "com ruído, e
os vestidos que rolavam no sangue" (Isa. 9:5), silenciaram. Nada se ouve
agora senão a voz de orações e o som do choro e lamentação. Dos lábios que tão
recentemente zombavam irrompe o clamor: "É vindo o grande dia da Sua ira;
e quem poderá subsistir?" Os ímpios suplicam para que sejam sepultados sob
as rochas das montanhas, em vez de ver o rosto dAquele que desprezaram e
rejeitaram.
Aquela voz que penetra no ouvido dos mortos, eles a
conhecem. Quantas vezes seus ternos e suplicantes acentos os chamaram ao
arrependimento! Quantas vezes foi ela ouvida nos rogos tocantes de um amigo, um
irmão, um Redentor! Para os que rejeitaram Sua graça, nenhuma outra voz poderia
ser tão cheia de censura, tão carregada de denúncias, como aquela que durante
tanto tempo assim pleiteou: "Convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois
por que razão morrereis?" Ezeq. 33:11. Quem dera para eles fosse a voz de
um estranho! Diz Jesus: "Clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha
mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e
não quisestes a Minha repreensão." Prov. 1:24 e 25. Aquela voz desperta
memórias que eles desejariam ardentemente se desvanecessem - advertências
desprezadas, convites recusados, privilégios tidos em pouca conta.
Ali estão os que zombaram de Cristo à Sua humilhação. Com
uma força penetrante lhes ocorrem as palavras do Sofredor, quando, conjurado
pelo sumo sacerdote, declarou solenemente: "Vereis em breve o Filho do
homem assentado à direita do poder, e vindo sobre as nuvens do céu." Mat.
26:64. Agora O contemplam em Sua glória, e ainda O devem ver assentado à direita
do poder.
Com terrível precisão sacerdotes e príncipes recordam-se
dos acontecimentos do Calvário. Estremecendo de horror, lembram-se de como,
movendo a cabeça em satânica alegria, exclamaram: "Salvou os outros e a Si
mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos
nEle; confiou em Deus; livre-O agora, se O ama." Mat. 27:42 e 43.
Vividamente relembram a parábola dos lavradores que se
recusaram a entregar a seu senhor o fruto da vinha, maltrataram seus servos, e
lhe mataram o filho. Lembram-se também da sentença que eles próprios
pronunciaram: O senhor da vinha "dará afrontosa morte aos maus". No
pecado e castigo daqueles homens infiéis, veem os sacerdotes e anciãos seu
próprio procedimento e sua própria justa condenação. E, agora, ergue-se um
clamor de agonia mortal. Mais alto do que o grito - "Crucifica-O,
crucifica-O", que repercutiu pelas ruas de Jerusalém, reboa o pranto
terrível, desesperado: "Ele é o Filho de Deus! Ele é o verdadeiro
Messias!" Procuram fugir da presença do Rei dos reis. Nas profundas
cavernas da Terra, fendida pela luta dos elementos, tentam em vão
esconder-se.
Na vida de todos os que rejeitam a verdade, há momentos
em que a consciência desperta, em que a memória apresenta a recordação
torturante de uma vida de hipocrisia, e a alma é acossada de vãos pesares. Mas
que é isto ao ser comparado com o remorso daquele dia em que o temor vem como
assolação, em que a perdição vem como tormenta! (Prov. 1:27.) Os que desejariam
destruir a Cristo e Seu povo fiel, testemunham agora a glória que sobre eles
repousa. No meio de seu terror, ouvem a voz dos santos em alegres acordes,
exclamando: "Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos
salvará." Isa. 25:9.
Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e
o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem. Ele
olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada:
"Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi!" Por
todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão aquela voz, e os que
ouvirem viverão. E a Terra inteira ressoará com o passar do exército
extraordinariamente grande de toda nação, tribo, língua e povo. Do cárcere da
morte vêm eles, revestidos de glória imortal, clamando: "Onde está, ó
morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" I Cor. 15:55.
E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e
jubilosa aclamação de vitória.
Os justos vivos são transformados "num momento, num
abrir e fechar de olhos". À voz de Deus foram eles glorificados; agora se
tornam imortais, e com os santos ressuscitados, são arrebatados para encontrar
seu Senhor nos ares. Os anjos "ajuntarão os Seus escolhidos desde os
quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus." Criancinhas são
levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados
pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem, e com cânticos de alegria
ascendem juntamente para a cidade de Deus.
De cada lado do carro de nuvens existem asas, e debaixo
dele se acham rodas vivas; e, ao volver o carro para cima, as rodas clamam:
"Santo", e as asas, movendo-se, clamam: "Santo", e o
cortejo de anjos clama: "Santo, santo, santo, Senhor Deus
todo-poderoso." E os remidos bradam: "Aleluia!" - enquanto o
carro prossegue em direção à Nova Jerusalém.
"Aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver,
também eles estejam comigo." "Irrepreensíveis, com alegria, perante a
Sua glória" (Jud. 24), Cristo os apresenta a Seu Pai como a aquisição de
Seu sangue, declarando: "Eis-Me aqui, com os fiIhos que Me deste."
"Guardei aqueles que Me deste." Oh! maravilhas do amor que redime! Transportes
daquela hora em que o infinito Pai, olhando para os resgatados, contemplar Sua
imagem, banida a discórdia do pecado, removida sua maldição, e o humano de novo
em harmonia com o Com indizível amor Jesus dá as boas-vindas a Seus fiéis, para
"o gozo do teu Senhor". O gozo do Salvador consiste em ver, no reino
de glória, as almas que foram salvas por Sua agonia e humilhação. E os remidos
serão participantes de Sua alegria, vendo eles, entre os bem-aventurados, os
que foram ganhos para Cristo por meio de suas orações, trabalhos e sacrifícios
de amor. Reunindo-se eles em redor do grande trono branco, indizível júbilo
lhes encherá o coração ao contemplarem os que ganharam para Cristo, e verem que
um ganhou a outros, e estes ainda outros, todos trazidos para o porto de
descanso, para ali deporem sua coroa aos pés de Jesus e louvá-Lo pelos séculos
intérminos da eternidade.
Ao serem os resgatados recebidos na cidade de Deus, ecoa
nos ares um exultante clamor de adoração. Os dois Adões estão prestes a
encontrar-se. O Filho de Deus Se acha em pé, com os braços estendidos para
receber o pai de nossa raça - o ser que Ele criou e que pecou contra o seu
Criador, e por cujo pecado os sinais da crucifixão aparecem no corpo do
Salvador. Ao divisar Adão os sinais dos cruéis cravos, ele não cai ao peito de
seu Senhor, mas lança-se em humilhação a Seus pés, exclamando: "Digno,
digno é o Cordeiro que foi morto!" Com ternura o Salvador o levanta,
convidando-o a contemplar de novo o lar edênico do qual, havia tanto, fora
exilado.
Depois de sua expulsão do Éden, a vida de Adão na Terra
foi cheia de tristeza. Cada folha a murchar, cada vítima do sacrifício, cada
mancha na bela face da Natureza, cada mácula na pureza do homem, era uma nova
lembrança de seu
pecado.
Terrível foi a aflição do remorso, ao contemplar a iniquidade que abundava, e,
em resposta às suas advertências, deparar com a exprobração que lhe faziam como
causa do pecado. Com paciente humildade, suportou durante quase mil anos a pena
da transgressão. Sinceramente se arrependeu de seu pecado, confiando nos
méritos do Salvador prometido, e morreu na esperança de uma ressurreição. O
Filho de Deus redimiu a falta e a queda do homem; e agora, pela obra da
expiação, Adão é reintegrado em seu primeiro domínio.
Em arrebatamento de alegria, contempla as árvores que já
foram o seu deleite - as mesmas árvores cujo fruto ele próprio colhera nos dias
de sua inocência e alegria. Vê as videiras que sua própria mão tratara, as
mesmas flores que com tanto prazer cuidara. Seu espírito apreende a realidade daquela
cena; ele compreende que isso é na verdade o Éden restaurado, mais lindo agora
do que quando fora dele banido. O Salvador o leva à árvore da vida, apanha o
fruto glorioso e manda-o comer. Olha em redor de si e contempla uma multidão de
sua família resgatada, no Paraíso de Deus. Lança então sua brilhante coroa aos
pés de Jesus e, caindo a Seu peito, abraça o Redentor. Dedilha a harpa de ouro,
e pelas abóbadas do céu ecoa o cântico triunfante: "Digno, digno, digno, é
o Cordeiro que foi morto, e reviveu!" A família de Adão associa-se ao
cântico e lança as suas coroas aos pés do Salvador, inclinando-se perante Ele
em adoração.
Esta reunião é testemunhada pelos anjos que choraram
quando da queda de Adão e rejubilaram ao ascender Jesus ao Céu, depois de ressurgido,
tendo aberto a sepultura a todos os que cressem em Seu nome. Contemplam agora a
obra da redenção completa e unem as vozes no cântico de louvor.
Em todos os tempos os escolhidos do Salvador foram
educados e disciplinados na escola da provação. Seguiram na Terra por veredas
estreitas; foram purificados na fornalha da aflição. Por amor de Jesus
suportaram a oposição, o ódio, a calúnia. Acompanharam-nO através de dolorosos
conflitos; suportaram a negação própria - e experimentaram
amargas decepções. Pela sua própria experiência dolorosa compreenderam a
malignidade do pecado, seu poder, sua culpa, suas desgraças; e para ele olham
com aversão. Uma intuição do sacrifício infinito feito para reabilitá-los,
humilha-os à sua própria vista, enchendo-lhes o coração de gratidão e louvor,
que os que nunca decaíram não poderão apreciar. Muito amam, porque muito foram
perdoados. Havendo participado dos sofrimentos de Cristo, estão aptos para
serem co-participantes de Sua glória.
Os herdeiros de Deus vieram das águas-furtadas, das
choças, dos calabouços, dos cadafalsos, das montanhas, dos desertos, das covas
da Terra, das cavernas do mar. Na Terra eram "desamparados, aflitos e
maltratados". Milhões desceram ao túmulo carregados de infâmia, porque
firmemente se recusavam a render-se às enganosas pretensões de Satanás. Pelos
tribunais humanos foram julgados como os mais vis dos criminosos. Mas agora
"Deus mesmo é o Juiz". Sal. 50:6. Revogam-se agora as decisões da
Terra. "Tirará o opróbrio do Seu povo." Isa. 25:8.
"Chamar-lhes-ão: Povo santo, remidos do Senhor." Ele determinou
"que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de
louvor por espírito angustiado". Isa. 62:12; 61:3. Não mais são fracos,
aflitos, dispersos e opressos. Doravante devem estar sempre com o Senhor.
Acham-se diante do trono com vestes mais ricas do que já usaram os mais
honrados da Terra. Estão coroados com diademas mais gloriosos do que os que já
foram colocados na fronte dos monarcas terrestres. Os dias de dores e prantos
acabaram-se para sempre. O Rei da glória enxugou as lágrimas de todos os
rostos; removeu-se toda a causa de pesar. Por entre o agitar dos ramos de
palmeiras, derramam um cântico de louvor, claro, suave e melodioso; todas as
vozes apreendem a harmonia até que reboa pelas abóbadas do céu a antífona:
"Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos
os habitantes do Céu assim respondem: "Amém. Louvor, e glória, e
sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para
todo o sempre." Apoc. 7:10 e 12.
Nesta vida podemos apenas começar a compreender o
maravilhoso tema da redenção. Com nossa compreensão finita podemos considerar
muito encarecidamente a ignomínia e a glória, a vida e a morte, a justiça e a
misericórdia, que se encontraram na cruz; todavia, com o máximo esforço de
nossa faculdade mental, deixamos de apreender seu completo significado. O
comprimento e a largura, a profundidade e a altura do amor que redime não são
senão palidamente compreendidos. O plano da redenção não será amplamente
penetrado, mesmo quando os resgatados virem assim como eles são vistos, e
conhecerem como são conhecidos; antes, através das eras eternas, novas verdades
desdobrar-se-ão de contínuo à mente cheia de admiração e deleite. Posto que os
pesares, dores e tentações da Terra estejam terminados, e removidas suas
causas, sempre terá o povo de Deus um conhecimento distinto, inteligente, do
que custou a sua salvação.
O mistério da cruz explica todos os outros mistérios. À
luz que emana do Calvário, os atributos de Deus que nos encheram de temor e
pavor, aparecem belos e atraentes. Misericórdia, ternura e amor paternal são
vistos a confundir-se com santidade, justiça e poder. Enquanto contemplamos a
majestade de Seu trono, alto e sublime, vemos Seu caráter em suas manifestações
de misericórdia, e compreendemos, como nunca dantes, a significação daquele
título enternecedor: "Pai nosso."
Ver-se-á que Aquele que é infinito em sabedoria não
poderia idear plano algum para nos redimir, a não ser o sacrifício de Seu
Filho. A compensação desse sacrifício é a alegria de povoar a Terra com seres
resgatados, santos, felizes e imortais. O resultado do conflito do Salvador com
os poderes das trevas, é alegria para os remidos, redundando para a glória de
Deus por toda a eternidade. E tal é o valor de cada alma que o Pai está
satisfeito com o preço pago; e o próprio Cristo, contemplando os frutos de Seu
grande sacrifício, exulta, também.
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