Dei carona, inclusive para bombeiros e para policiais rodoviários.
Em certa sexta-feira eu vendi em Ponta Grossa e estava com pressa para voltar para casa. Estava dirigindo uma besta, e saí pelas 17h rumo a Capital Paranaense. No que saí da cidade e peguei a rodovia, vi um senhor pedindo carona e mais atrás estava sua esposa com três filhos pequenos. Eu parei e trouxe-os até Curitiba, sendo que no caminho esse senhor começou contar sua situação:
Eles moravam em uma pequena chácara perto de Jacarezinho, sendo que eram várias famílias contratadas pelo capataz para a colheita. No armazém eles compravam o essencial no caderno, para que quando recebessem do proprietário acertassem a conta.
Depois de efetuado o serviço, o proprietário deu o calote e sumiu do mapa. Souberam inclusive, que ele havia vendido o sítio, deixando assim todos em situação precária.
Essa família tinha comido um pouco só na parte da manhã e haviam conseguido carona até Ponta Grossa. Conforme informações do chefe da família, desde as 14h estavam pedindo carona. Eram; o pai de 28 anos, a mãe de 24 e crianças de dois, de quatro anos e uma de colo.
O plano deles era chegar em Curitiba, pousar em algum albergue e no dia seguinte conseguir carona até Rio Branco do Sul. Na zona rural da cidade, iriam tentar localizar um tio que já fazia anos que não o viam e pedir para trabalharem e morarem com ele até achar outra solução.
Condoí-me com a situação e parei em uma lanchonete e comprei lanche para todos.
Chegando em Curitiba ao invés de pegar o caminho mais curto que era pelo contorno sul, levei-os até o centro e dei-lhes R$ 30,00 para passagem de ônibus e lanche do dia seguinte.
Antes de chegar a Ponta Grossa, telefonei para o
responsável dos uniformes para que levasse mais materiais e me encontrasse em
Palmeira, onde também lhe entregaria um pouco de dinheiro e cheques.
Jantei em Palmeira e tive que aguardar duas horas até que ele chegasse. Havia chovido e lá pelas 23h quando recomecei a viagem para União da Vitória, a chuva havia parado e devido ao calor do asfalto, formou-se uma neblina que eu nunca tinha visto na vida.
Não era muito forte, mas ela se formava até mais o menos um metro do solo. Era como se eu estivesse dirigindo por cima das nuvens. Eu conseguia ver as estrelas, mas não enxergava onde terminava a pista e começava o acostamento. Tive que ir mais devagar e quando cruzava por outro automóvel era um sufoco.
Quando estava quase chegando a São Mateus do Sul, a neblina havia dissipado e mais ou menos 300 metros à frente eu vi um carro saindo do acostamento.
Quando cheguei àquele local, com a claridade dos faróis da Kombi eu vi duas garotas que acenavam pedindo socorro.
Poderia ser uma armadilha, mas instintivamente parei. Duas garotas de quinze anos, inclusive uma delas com as sandálias nas mãos chorava freneticamente. A segunda um pouco menos nervosa, foi quem contou a situação. Uns colegas as convidaram para fazer um lanche e depois a levaram para aquele local ermo, onde pretendiam violentá-las à força.
Comentei sobre a ingenuidade delas e instruí para que contassem para seus pais, visto que elas disseram que eles conheciam os rapazes.
Levei-as até a casa onde moravam e fui dormir no hotel, para na madrugada seguinte seguir viagem.
Chegando à usina de segredo, uma senhora fez sinal para que eu parasse.
Subindo no carro, ela contou que teria que ir até Dois Vizinhos para avisar o marido para que continuasse na cidade para que não fosse morto.
Ela chorou em quase todo o trajeto; informou que seu marido havia comprado umas madeiras fiado e não conseguia pagar. Então ela ouviu que o madeireiro havia contratado um pistoleiro para matá-lo; inclusive ela o viu rondando na região. Seu plano era avisá-lo para não voltar, até que arrumasse dinheiro para escapar da morte.
Eu estava com pouco dinheiro e combustível, mas quando cheguei ao trevo em que deveria seguir para a direita, peguei o da esquerda indo até Dois Vizinhos, rodando mais dezesseis quilômetros entre ida e volta, fora de meu caminho devido a gravidade da situação.
Em um assentamento, parei para dar carona para um casal e o filho pequeno.
Como a Kombi estava lotada, eu arrumei um pequeno espaço atrás onde o menino deitou-se, sendo que os adultos viajaram no banco da frente.
Em certo momento, eu estranhei que o motor da Kombi
começou a perder potência e o caroneiro foi quem arrumou a haste que unia o
carburador, para que continuassem a viagem. Até chegar a Curitiba, essa haste
soltou-se várias vezes, mas eu já aprendera como ajeitá-la, pois o casal e o
filho ficaram em Guarapuava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário