Aos 15 eu vendia tapetes de casa em casa só que não gostava de vender nas vilas de nossa capital. Eu gostava de aventuras, e assim muitas vezes ia até a rodoviária velha ou até a rodoferroviária e comprava a passagem para qualquer lugar, desde que fosse fora de Curitiba. Ia só com o dinheiro para a ida. Para comer e voltar para casa teria que vender. Às vezes algum colega me acompanhava, mas na maioria das vezes ia só.
Naquela ocasião fui só até São Bento do Sul SC.
Era um dia de inverno quando embarquei às 7 horas. Na rodoferroviária não queriam me vender a passagem, pois eu ainda era menor de idade. Só me venderam por que lhes apresentei a autorização assinada pelo juizado, onde meu pai me autorizava viajar desacompanhado em todo território nacional. Antes de ter a dita autorização era mais difícil, mas sempre arrumei um jeito. Aconteceu caso de embarcar no ônibus no caminho após ele ter saído da rodoferroviária, ou fui de táxi até a rodoviária e pedi para o motorista me comprar a passagem.
Depois de umas duas horas de viagem, onde a paisagem que se descortinava pela janela do “bus”, era quase que tudo branco, devido à forte geada da noite anterior; cheguei à linda cidade catarinense onde a maioria de sua população são de descendentes de alemães.
Comecei a oferecer os tapetes e um fato me pegou de surpresa. Ao bater em uma casa e oferecer meu produto, enquanto conversava com a senhora, a vizinha do lado abriu a porta e começou a discutir com a primeira. Eu estava em um fogo cruzado. Uma falava da outra e essa por sua vez retribuía as “gentilezas”. Eu disse; “não tenho nada a ver com o peixe”, e de fininha fui saindo do lugar.
Ps.. As mulheres não eram descendentes de alemães; eram de cabelos e olhos escuros;... filhas de brasileiros natos!
Lá pelas 15h30m, ao oferecer o produto em um escritório onde estava só a secretária; uma linda moça loira de olhos azuis, ela gostou dos tapetes, mas disse que passasse em outra hora porque na ocasião estava sem dinheiro.
Disse-lhe que dificilmente voltaria para aquele lugar, pois morava em Curitiba.
Então ela pediu-me um de presente. A princípio eu recusei, mas ela continuou a insistir dizendo que me dava um beijinho. Eu disse que apesar dela ser linda, não valia à pena, pois os tapetes me custavam caros. Aí ela disse-me que seria um abraço e um beijo na boca!
Como eu nunca havia beijado e a garota era linda, aceitei a proposta, mas depois do primeiro eu queria mais um... e mais um; até que depois de mais um três ela recusou-se informando que estava na hora de seu patrão chegar.
Saí do escritório pisando nas nuvens, mas quando me dei por conta, tinha perdido o último ônibus para Curitiba que naquele tempo saía às 16 horas.
Tive que embarcar em um somente às 20h até Rio Negro e de lá apanhei outro que saiu às 22 h para Curitiba.
No ônibus em que vim, tinha uma divisória com uma porta que separava o motorista dos passageiros, sendo que tinha uma poltrona destinada ao segundo motorista e o fiquei de olho e quando o ônibus saiu da rodoviária, fui solicitar para o motorista para viajar naquela poltrona, que no momento estava vazia, sendo que a resposta foi um sonoro não!
Chateado e pisando duro, fui até o último banco e lá me deitei, pensando naquela garota que à medida que o ônibus seguia seu caminho à distância mais nos separava.
Meu plano era descer do ônibus na BR 116 na Vila São Pedro, onde era mais fácil ir para minha casa, mas deitado no último banco enquanto meus pensamentos vagavam ao longe, acabei adormecendo.
Quando acordei, o ônibus estava quase chegando à rodoferroviária. O último ônibus que fazia a linha para a Vila São Pedro já tinha passado.
A solução foi embarcar no último ônibus que fazia a linha do Xaxim e quando esse chegou ao ponto final, fui conversando com um senhor que costumeiramente pegava aquele ônibus, até perto de minha casa.
Aventuras como essas aconteceram muitas vezes. Por vezes quando estava só e algumas vezes quando estava com algum colega.
Às vezes perdia o último ônibus e voltava a pé ou de carona. Poderia até chegar tarde a casa, mas nunca pousava fora.
Em
caso de desaparecimento, meus pais nem saberiam por onde começar a procura, visto
que eu nunca falava para onde iria e na maioria das vezes nem eu sabia; decidia
quase sempre quando já estava no centro, eu ia para onde soprava o vento ou
estava virado meu nariz!
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