sábado, 5 de julho de 2014

Infância - História

PRIMEIRA VIAGEM DE TREM – Eu tinha cinco anos de idade, mas lembro-me de alguns detalhes de nossa primeira viagem.
Nosso pai trabalhava como auxiliar em um escritório de despachante do DETRAN, sendo que naquela época a família já era composta de oito pessoas; os pais e seis filhos.
O Sr. João,  patrão de nosso pai levou-nos até a ferroviária em um jipe candango.  Para as crianças era novidade, pois nunca tínhamos visto um trem.
Lembro-me que quando os ponteiros do grande relógio de parede da ferroviária marcaram sete horas,  soou o apito estridente e a locomotiva que resfolegava começou a avançar pelos trilhos, iniciando assim a tão esperada viagem.
Em Morretes ficamos em um hotel no centro da cidade que pertencia à nossa tia. Lembro-me que no almoço não quis comer peixe porque quem o preparou, não tirou a cabeça do mesmo e assim “literalmente com o olho de peixe morto” ele olhava para mim.
Dormimos em um quarto no sótão que tinha duas camas. Eu e meu irmão dormirmos em uma e nossa irmã em outra. Da janela dava para ver um pequeno regato que atravessava o terreno onde estava localizado o hotel.
Passamos uns três dias em Morretes e Paranaguá.

PRIMEIRA VISITA AO TEATRO – Mas ou menos nessa época, nosso pai levou-nos ao Teatro Guaíra, onde estavam se apresentando um grupo folclórico alemão, para assistir a famosa dança dos tapas.
Essa foi a primeira vez que me lembro de ter andado de ônibus e de comer pipocas.

PRIMEIRO PIC-NIC – Naquele tempo nossos pais frequentavam a Igreja Adventista do Jardim das Américas, pois morávamos em uma casa aos fundos da casa do patrão na vila cazeta; vila essa que já não existe, porque foi desapropriada para a ampliação do Centro Politécnico.
Nessa igreja foi que cursei o 1º ano primário, sendo que os membros da igreja eram uma turma muito animada e unida.
O primeiro pic-nic foi em uma chácara da região.  Lembro-me que tinha um lindo bosque e um poço onde a água era tirada com um balde, que era  puxado com uma corda pela manivela.

 PRIMEIRA EXCURSÃO – A primeira excursão também foi com a turma da igreja. Foi para o Parque de Vila Velha.
Lembro-me do ônibus que nos levou foi um monobloco, que era o chodó da época.
Chegando lá, a primeira coisa que fizemos foi almoçar em cima de uma pedra.  Saboreamos os pastéis e canudinhos feitos por nossa mãe com muito carinho.
Após o lanche; o pai, eu e os dois irmãos maiores, subimos em uma rocha e lá do alto ele jogou um pedregulho perto de onde estavam a mãe com os três menores, assustando-os.
Após fomos até a lagoa dourada,   furnas  e por fim paramos no rio dos papagaios.
Ps. A família cresceu consideravelmente. Atualmente são 13 filhos.

PRIMEIRA SURRA – Meu pai trabalhou como auxiliar em um escritório de despachante do DETRAN.
Em muitos dias não o víamos, pois ele saía bem cedo para trabalhar e ficava até mais tarde, chegando em casa quando já estávamos dormindo.
Certa manhã quando acordamos, vimos que o caixão de lenha estava repleto de papéis para ser queimados, pois era lixo do escritório.
As crianças começaram a fuçar para pegar papel para desenhar, brincar de dinheirinho, fazer barquinho, aviãozinho, balão, etc.
A Lóide, minha irmã mais nova achou uma bolinha de búlico e pedi para ela. Como ela não quis me entregar, falei um palavrão. Ela contou para o pai e esse me deu uma tremenda surra de cinta.
Hoje em dia, não se pode nem encostar a mão nos filhos, mas damos graças ao bom Deus pela educação recebida de nossos pais; pois faço parte de uma família de 13 irmãos, e nessa ninguém bebe, fuma ou envolveu-se em qualquer atividade contra a moral e bons costumes, que possa envergonhar seus pais. 
Está certo que um é mais feio que o outro, mas graças a Deus estão todos vivos e isto é o que importa.
O sábio Salomão que foi um dos homens mais inteligente que viveu sobre a terra escreveu:  “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.”  Provérbios 22:6
“E inspirado por Deus escreveu também: Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá.”  Provérbios 23:13

QUASE TRAGÉDIA! – Quando recém completei seis anos e minha irmã sete, nossa mãe deixou-nos em casa cuidando dos três menores e foi com o mais velho comprar lenha para o fogão, pois só tínhamos fogão à lenha.
Só que ela deixou cozinhando alguma coisa no fogão e nós, os dois “cabeças de vento” fomos brincar com fogo.
 Pegamos com colher brasas do fogão e jogamos para o teto e gritamos: “Foguetes de São João”, enquanto a irmã mais nova pedia: “Joga mais, queio ve esteinhas” e continuamos jogando.
A casa era toda de madeira, inclusive o forro e o soalho.
Quando nossa mãe chegou em casa, levou um tremendo susto quando viu fumaça saindo pelas janelas.
Rapidamente ela entrou, pegou um balde e jogou água nas brasas pelo chão e principalmente na cama, onde o colchão que era de palha e o seu casaco estavam em brasas vivas, mas por um milagre ainda não havia pegado fogo.
Em um pequeno berço ao lado da cama, dormia o caçula da época com um ano de idade.  Na cama, na parede e no assoalho ficaram as marcas de queimados de brasas.
Se pegasse fogo na casa iria queimar também a casa do patrão de nosso pai, pois era uma casa grande de madeira na frente do terreno. Nós morávamos na casa menor aos fundos.

ATROPELADA - A escola em que estudávamos ficava a quase um quilômetro da casa onde morávamos.
Nós íamos sozinhos para as aulas, mas nossos pais sempre nos advertiam; para que olhássemos bem antes de atravessar a rua, não falássemos com estranhos e não aceitássemos carona.
O irmão mais velho de nove anos teria que cuidar dos dois menores.
Certo dia ao chegarmos na escola, verificamos    que a professora ainda não havia chegado. Então fomos esperá-la no ponto do ônibus.
Quando esse chegou, ela não veio nele e o Samuel que era para cuidar dos dois menores, atravessou correndo por trás do ônibus, seguidos de perto pela Abigail e o por mim.
Como a rua era de saibro, lembro-me que ouvi um grito e vi aumentar a poeira quando o carro (um citroen antigo) atropelou minha irmã.
O motorista evadiu-se do local e ela foi socorrida por populares que a colocaram em uma ambulância que providencialmente passava pelo local.
Eu não queria entrar na ambulância, porque nosso pai nos havia advertido para não pegar carona com ninguém.

PRIMEIRO BRINQUEDO – Em 1966 na eleição para governador do Paraná vieram alguns ônibus na vila em que residíamos e levou várias crianças em determinado lugar, para receberem bexigas, pipocas, refrigerantes e um brinquedo para cada um.
Era uma forma de ganhar a simpatia do eleitor através dos filhos.
Ganhei um trenzinho de ferro e esse foi o primeiro brinquedo que tenho lembrança de ter ganhado na infância.
Aos seis anos eu brincava com um jipe emprestado do Adalberto que era um vizinho de melhores condições.
Devido ao fato da casa em que morávamos era cedida e estava situada aos fundos da casa do patrão de nosso pai, eu descia montado em um jipinho em um pequeno carreiro no terreno ao lado; mas a esposa do patrão já me cortou o barato... ela foi até a janela e bradou: “Não faça barulho porque o Arnoldinho está dormindo!”
No jipe faltava o volante, então eu controlava o pequeno veículo pelas rodas dianteiras.
Lá pelos oito anos eu e meus irmãos começamos a fazer nossos próprios brinquedos, principalmente carrinhos de rolimãs e descíamos em um declive perto de nossa casa.  Às vezes além do carrinho fazíamos um reboque e por vezes quando descíamos e fazíamos alguma curva rapidamente, o reboque se desprendia e capotava com quem estivesse nele.

SUSTO – Eu e os dois irmãos mais velhos íamos até a pequena escola a pé, sendo que essa distava quase um quilômetro.
Certo dia ao passarmos perto do Centro Politécnico, voltamos assustados, pois havia vários homens fazendo a manutenção na rodovia; o asfalto estava mole e tinha um caminhão que estava com fogo na parte traseira do tanque.
Hoje em dia, sabemos que isto é um procedimento normal, pois é para esquentar o piche, mas na ocasião voltamos correndo e só fomos para a escola porque nossa mãe nos levou até passar pelo caminhão.
Algumas vezes no trajeto tínhamos que transpor uma cerca de arame, pois às vezes passavam alguns homens a cavalo conduzindo boiada de bois zebu.

ESCOLA CRISTÃ DE FÉRIAS – Nessa escola havia apenas um professor ou professora que dava aulas para uns vinte alunos, sendo de várias séries; desde o 1º até o 4º ano primário.
A sala de aula era nos bancos da nave da igreja e nas férias, juntavam-se mais algumas professoras e em uma semana contavam histórias, faziam concursos e davam pequenas atividades para os alunos e no final da semana faziam uma pequena festa com sucos, bolos e até bexigas e entregavam para os alunos as atividades efetuadas durante a semana.
Ganhei um pequeno peixe de gesso, que durante a semana pintara com várias cores e enquanto contente seguia com os irmãos para casa, ansioso para mostrar meu trabalho para a mãe, comecei a brincar jogando-o para o alto e agarrando-o logo em seguida.   
Empolguei-me tanto com a brincadeira que o lancei um pouco mais alto e no que desceu, escorregou de minha mão e em pedaços ficou no chão, deixando-me desapontado comigo mesmo.

MEDO DE APANHAR – Um dia o Samuel bateu na Iara que era uma colega de classe e o diretor colocou-o de castigo. Ele ficou um tempão em pé, virado para o quadro negro e se não bastasse, o diretor mandou que os três irmãos o esperassem na saída que ele os levaria para a casa e falaria com nosso pai.
Tremendo de medo esperamos um pouco, mas como o diretor se demorava, como quem não quer nada, vagarosamente fomos para casa e felizmente acabou ficando por isso mesmo.

TABUADA – Como foi citado anteriormente, o Sr. Wilson, pai das crianças às vezes trabalhava até mais tarde, mais quando chegava a casa olhava os cadernos dos filhos.
Certo dia, ele viu um bilhete da professora no meu caderno, que eu precisava estudar a tabuada do seis, do sete, do oito e do nove.
Apesar de o pai estar cansado, me acordou e não dormiu enquanto não decorei as referidas tabuadas.
Naquela noite fiquei “muito contente” com aquele bilhete da professora.

 CHUTES NA CANELA – Quando nosso pai ia visitar algum parente e levava junto algum ou alguns dos filhos (não poderia levar todos senão encheria a casa e o desfalque seria grande), ele recomendava: “Comportem-se e na hora do lanche não vão repetir, porque isso é muito feio!”
Só que muitas vezes nós crianças, principalmente na casa da tia Elzira, e do tio Deco, olhando a mesa farta esquecíamos as recomendações e após comermos uma fatia de bolo ou pão com manteiga, repetíamos a dose.
Inesperadamente sentíamos um impacto na canela e olhávamos para nosso pai que nos encarava sério e ficávamos apreensivos, pois em casa a conversa seria mais de perto.
A irmã Lóide, lembra-se de uma ocasião quando ela foi com o pai na casa da dona Iracema, onde ele estudava a bíblia com a família.
Na hora do lanche à tarde, ocasião em que ela estava sentada no outro lado da mesa perto da dona da casa, por baixo da mesa o seu pai foi dar-lhe um corretivo e acertou a canela da dona da casa. Essa espantada deu um sobressalto e o Sr. Wilson com cara de tacho, teve que pedir desculpas e ao mesmo tempo explicar o motivo do “chute carinhoso”.  

PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO... – O tio Deco já acostumado com as traquinagens da meninada, pois também tinha vários filhos, em um aniversário em sua casa resolveu pregar uma peça na criança mais gulosa. Fritou vários pastéis e entre eles, preparou um bem grande, mas junto com a carne colocou uma enorme pimenta como recheio e ficou de olho para ver quem seria o “premiado”, que pegaria aquele  “delicioso”  pastel.
Não demorou muito, pegaram o pastel, mas não foi nem uma das crianças e sim o Sr. Schultz que era seu padrasto.
O coitado do idoso ficou em silêncio, mas de seus olhos azuis desceram enormes lágrimas de crocodilo. 

ESGUELADO - Em outra ocasião, esse tio foi na casa em que  morávamos para fazer uma visita e ele estava meio alegre, pois havia tomado uns goles.
Nossa mãe cozinhou uns milhos verdes e serviu para ele e para a sua esposa.
Só que enquanto eles comiam na cozinha, eu no quarto imitei um cavalo e ele zangado foi até lá e pegou-me pelo pescoço.
Meu pai foi quem me acudiu, mas o tio nem deixou a esposa terminar de comer o milho. Foram embora na mesma hora, afirmando que os filhos deles respeitavam os mais velhos, pois tinham educação.
Depois que saíram levei os merecidos petelecos.  
 
CORRENDO DA VACA – Na década de 60 e começo de 70 as vilas; Independência, Parigot de Souza, não existiam, nem os bairros do Sítio Cercado e Bairro Novo.  A Rua Batista da Costa era o limite. Entre ela e o Jardim Piratini, desde a BR 116 até o final do Bairro Novo era tudo campo.
Os alemães cercaram com arame farpado desde a Vila Rex até a Madeireira Dal Pai e todas as manhãs, traziam dezenas de vacas e à tarde levavam novamente para os currais.
Certo dia, uma delas deu cria bem perto da casa em que morávamos. Só que o bezerro nasceu morto, mas ela não queria abandoná-lo e afugentava os corvos que chegavam perto.
À tardinha quando o rapaz que conduzia a manada veio buscá-las, teve que laçar a vaca e puxá-la à força. 
Quando o rebanho já havia se distanciado uns 200 metros, as crianças foram ver o bezerro morto, mas a vaca livrou-se do condutor e voltou em disparada. Era só peão correndo para todo lado e quase se enroscaram na cerca de arame.  É isso que dá ser curioso.

Em outra ocasião, algumas vacas pastavam bem perto da casa, quando  resolvemos tirar leite de uma delas. Sobrou para o Samuel que é o irmão mais velho. Na hora em que ele foi tentar tirar leite e se aproximou dela com um caneco, essa lhe deu um coice jogando o caneco longe.

 

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